A ideia deste livro partiu de Maria João Avillez. E ainda bem. No seu Prefácio de 100 Entradas para um Mundo Melhor, referindo-se ao saudoso Padre Feytor Pinto, escreve: «Ouvir o meu pároco interpela-me e simultaneamente responsabiliza-me – e que posso dizer de mais “definitivo” que isto?». E ao ouvi-lo com esta atitude, Maria João Avillez entendeu que as suas homilias mais relevantes poderiam ser coligidas num livro. O Padre Feytor Pinto concordou e desse acordo surgiu esta belíssima publicação que me acompanhou grande parte de 2021. Para além da obra social e religiosa que nos deixou, o Padre Feytor Pinto reservou-nos um legado de valores, conhecimentos e práticas que nos servirão para a vida toda e que aqui estão sumarizados.
Neste volume de homilias, assistimos a uma homenagem aos afetos, aos valores, à alegria e ao Natal. «Não é preciso fazer muitas coisas novas, é preciso dar uma dimensão nova a todas as coisas que fazemos», diz-nos a propósito do Natal. Assistimos à apologia do silêncio e do recolhimento, que tantas vezes nos faltam no rame-rame. Também nos damos conta, aqui, da importância do amor, que «é sobretudo comunhão». E da família, «célula primária da sociedade». Também do tempo, «um dom de Deus, que pode organizar-se».
Nas suas referências frequentes ao Evangelho, encontramos «os cinco pilares da vida cristã: viver segundo a verdade, a justiça, a liberdade, o amor e a paz». Surge, claro, amiúde a menção à fé, a qual, diz-nos Feytor Pinto, «sem obras é morta». E no que à fé diz respeito, surge a ideia de «reiniciação constante à vida cristã», porque há oscilações, idiossincrasias, dúvidas, convicções e novas dúvidas no caminho a percorrer. Fala-nos, também, da caridade e da gratuidade. Aliás, «num apelo radical à gratuidade».
Lemos passagens com a ironia que procura reposicionar-nos sobre o essencial. «Ser cristão não pode limitar-se a algumas atitudes que são bem vistas». E a partir desse repousar sobre o essencial está aberto o caminho para estagnar e ultrapassar as dúvidas que fazem parte do caminho. Somos também postos em sintonia com a árdua tarefa de educar, que «consiste na formação integral da pessoa humana», abrangendo as diferentes vertentes biológica, psicológica, social, cultural. E, sobre a educação, Feytor Pinto esclarece que educar pressupõe orientar para os valores, não sendo nunca impositiva a educação. E educar para a cidadania, com o intuito de que consigamos construir algo que tenha um usufruto coletivo.
E depois há uma parte significativa do livro dedicada à felicidade, esse dom que apenas poderá ser consolidado mediante importantes coordenadas de rota: «a responsabilidade, o acolhimento, o amor, a proteção»… E, ainda, à dignidade humana, «o valor a defender em todas as circunstâncias».
Este livro é um convite direto à radical transformação da nossa vida. E há melhor altura para o fazermos do que o Natal? O Natal que, segundo o Padre Feytor Pinto, «tem de ser tempo de novos valores». Perante a mudança como imperativo, havemos de descobrir o que de novo nos é pedido.
.