PERGUNTA 1 | José Tolentino Mendonça, numa menção a Flaubert, recordou-nos no seu O Que É Amar um País: «falando de livros, o romancista dizia que a sua função é dotar a vida de uma consciência suscetível não só de explicar que vivemos, mas também de nos iluminar acerca das razões por que vivemos. Que livros contribuíram para a descoberta do teu propósito de vida?
[Para um conjunto de perguntas colocadas pelo Entre | Vistas, que vão sendo progressivamente anunciadas, a autora, consultora de inclusão e palestrante Mafalda Ribeiro dá respostas, prometendo provocar-nos, incitar-nos, contagiar-nos. Esta Parte IV inaugura um conjunto de três perguntas dentro do “chapéu” temático do livro, esse lugar que habitamos e somos. É a rubrica Pelas Lentes da Mafalda Ribeiro].
Sou uma apaixonada por livros, desde que me lembro de começar a juntar as letras, para formar as palavras, e comecei a ler. Acho que mesmo antes de conseguir ler sozinha, os livros já eram mais companheiros do que as bonecas. Com elas falava sozinha, com eles aprendia a escutar a vida com os olhos. Depois de aprender a falar, aprendi a decorar e fazia toda a gente acreditar que eu já sabia ler. Era sempre a mesma história da coelha Miffy, a que a minha mãe me contava inúmeras vezes até eu estar apta a representar o meu papel de pequena leitora precoce. Perdeu-se uma atriz, mas ganhou-se uma leitora compulsiva.
Foi na altura em que estava a tocar na linha da maioridade que fui apresentada àquele que considero ser O Livro de todos os livros alguma vez escritos – a Bíblia!
No entanto, se me focar na importância dos livros, ou de um deles como “bandeira”, para a descoberta daquele que considero ser o meu propósito de vida, terei de recuar aos meus 18 anos. Foi na altura em que estava a tocar na linha da maioridade que fui apresentada àquele que considero ser O Livro de todos os livros alguma vez escritos – a Bíblia! Afinal, ela é um conjunto de livros, de vários géneros literários, escritos por inspiração divina, pelos quais Deus se revela e dá a conhecer a Sua vontade. Pegar nela é sentir que transporto comigo uma verdadeira biblioteca. Tê-la na mesa de cabeceira é o lembrete diário do para quê de estar viva. E “alimentar-me” dela é forma que escolhi de nutrir o meu “Eis-me Aqui” e de permanecer firme no caminho desafiante de continuar a ir ao encontro do outro.
Uma vez perguntaram ao escritor e tradutor Frederico Lourenço se a Bíblia tinha uma mensagem revolucionária. Ele respondeu: «Não tenho dúvida nenhuma. Se todas as pessoas pusessem em prática a mensagem de Jesus, em grande medida os problemas do mundo estavam resolvidos. A questão é que, ao longo destes dois mil anos, tem-se revelado difícil pôr em prática essa mensagem. A Bíblia não é um livro de hoje nem de ontem, é um livro de amanhã».
Foi por causa deste Livro que decidi que a comunicação seria muito mais do que uma profissão. Foi este Livro que me fez ler como quem tem de comer todos os dias para não desfalecer. Por causa deste Livro fui chamada a escrever e a gerar outros livros. É por responsabilidade deste Livro que sei quem sou e o que faço aqui. É neste Livro que descanso e que me desarrumo. Porque há este Livro, não perco a memória, a presença e o farol nos dias. É neste livro que me aprendo a relacionar comigo, com a vida que Deus criou e com as pessoas. Para aqueles que nunca abriram uma Bíblia e nunca lhe deram uma oportunidade – a de se revelar através do Verbo capaz de tocar a existência humana – sugiro que arranquem os rótulos que a religião foi colocando neste Livro. O problema não está na Bíblia nem no que ela diz, mas no que alguém quer que ela diga. O problema não está, muitas vezes, no argumento mas em quem argumenta. O problema está na falta de Amor e Sabedoria atroz de seres humanos que justificam com a letra aquilo que o seu espírito fraco teima em assassinar. O problema está no “ser” isto e aquilo em voz alta apenas. O problema está no “ter” títulos sem empatia. O problema está no querer fazer e falar em nome de alguém que não se conhece. O problema está no adultério que o mundo faz dos direitos humanos. O maior dos problemas é querer ser-se Deus, quando só temos de ser amados por Ele.
Uma vez perguntaram ao escritor e tradutor Frederico Lourenço se a Bíblia tinha uma mensagem revolucionária. Ele respondeu: «Não tenho dúvida nenhuma. Se todas as pessoas pusessem em prática a mensagem de Jesus, em grande medida os problemas do mundo estavam resolvidos. A questão é que, ao longo destes dois mil anos, tem-se revelado difícil pôr em prática essa mensagem. A Bíblia não é um livro de hoje nem de ontem, é um livro de amanhã». Por isso é que, para mim, além de intemporal, este é o Livro onde encontro sempre uma fonte inesgotável de Esperança. É na Palavra, que a Bíblia é, que todas as minhas palavras escritas e ditas ganham uma finalidade.
Sobre a Mafalda Ribeiro
A pergunta que se faz a ela própria não é «Porquê eu?», mas «Para quê eu?». Endereça a sua maior inquietação à finalidade e à missão. Como quem está ao serviço de. Tem o corpo pequenino de criança que a doença rara congénita Osteogénese Imperfeita (conhecida como a “doença dos ossos de vidro”) lhe legou. A cadeira de rodas que a transporta não é, no entanto, um obstáculo intransponível. É um veículo para chegar mais longe. Possui mais de uma centena de fraturas no corpo de palmo e meio, mas desconcertante, pelo humor, a rapidez de raciocínio e a audácia. É uma comunicadora nata e é chamada a falar como palestrante motivacional, certificada em Storytelling e Coaching Internacional. Se fosse uma música, seria um samba, pela alegria. O batom vermelho é a sua imagem de marca e o sorriso o seu cartão de visita!
+ Informação Mafalda Ribeiro
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