«Quem sabe tudo, é porque anda muito mal informado.» A frase é do escritor, dramaturgo, humorista e jornalista brasileiro Millô Fernandes (1923-2012), cuja silhueta, desenhada pelo também brasileiro Chico Caruso, é possível ver no calçadão do Rio de Janeiro batizada com o nome de “O Pensador de Ipanema”. Ora, esta sua frase é o ponto de partida para falar sobre a importância estratégica do conhecimento e o papel da aprendizagem na vida das pessoas e das organizações. Porque o resto é morrer…
Será que alguma vez nos perguntámos até que idade queremos/desejamos viver? Esta é porventura uma questão demasiado filosófica ou até espiritual para a colocarmos assim do pé para a mão e para a respondermos com ligeireza. Mas podemos – devemos – dar a volta e chegar ao ponto fundamental que a pergunta encerra: o que queremos e até quando estamos dispostos a aprender? Aí reside a chave da longevidade da nossa vida.
É a aprender que avançamos, evoluímos e superamos o quotidiano, a rotina e a previsibilidade. As tarefas do dia a dia já levamos por diante de olhos fechados, porque é da nossa melhor zona de conforto que as telecomandamos. Romper as barreiras desse perímetro de segurança, contudo, levará a um caminho mais longínquo, mais frutífero e mais feliz. Mas para tal, diz o conhecimento, devemos aprender e aprender e aprender. Para não pararmos. Para não morrermos. E isto é válido, com certeza já o testámos, em todas as vertentes da vida. Daí que esta conversa seja recomendável, quer para o indivíduo, quer para as organizações. Quando ambos, indivíduos e organizações, optam por não aprender, escolhem uma vida sem esforço, é certo, mas também sem compromisso, enquanto à volta o resto do mundo avança e se transforma…
Javier Martínez Aldanondo, especialista em Gestão do Conhecimento na reconhecida consultora chilena Catenaria, aponta de forma muito simples e clara algumas contrapartidas de aprender:
- exige esforço, contrariando a inclinação natural para a economia de energia e a permanência na chamada zona de conforto;
- é um processo pessoal e intransferível, não podendo ninguém assumi-lo em nome de ninguém;
- requer proatividade, dependendo do próprio e não de terceiros ou de motivações externas;
- exige prática de memória e o esquecimento do que não é útil, evitando a tendência de continuar a guardar futilidades na memória.
Mas, para Javier Martínez Aldanondo, aprender garante também uma série de recompensas de incalculável valor:
- as emoções indescritíveis originadas na aprendizagem de algo desejado e no contacto com a novidade desencadeiam outros processos de aprendizagem, com menor grau de sacrifício e maior prazer;
- a projeção face ao futuro, ancorada na aquisição de sempre novos conhecimentos, por contraste com o que já se sabia (o passado);
- a consciência de que o mais importante na educação não passa tanto pelos novos conteúdos adquiridos, como pelo enraizamento do hábito de aprender.
O verdadeiro processo de aprendizagem começa, pois, na opção de eleger as coisas sobre as quais queremos aprender mais e mais e levar essa descoberta até ao fim do mundo. Fazer como Mahatma Gandhi (1883-1944): «Viva como se fosse morrer amanhã. Aprenda como se fosse viver para sempre». Porque quem sabe tudo, andará pelos vistos muito mal informado.
E já agora: até que idade queremos viver?
+ Informação catenaria.cl
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