A Literatura é o Prolongamento da Infância – Diálogo com José Jorge Letria, consiste mais do que numa entrevista, numa deliciosa conversa entre o jornalista e a escritora Lídia Jorge, com tópicos peculiares sobre a vida da autora, já que, como refere a introdução, «a sua vida contribui para que melhor se conheça a sua obra».
Para Lídia Jorge, «o livro é uma escultura do pensamento». E esta ideia sugere-nos, de repente, que quanto mais lemos, mais podemos moldar o pensar. Lídia Jorge é também a pessoa para quem «nunca o essencial está resolvido». Na sua escrita, parece haver um eco permanente do que os seus olhos viram na sua vida, enquanto mulher, enquanto pessoa. Como se os olhos da escritora, afinal, fossem inseparáveis. Como se entre a sua vida e a sua obra não houvesse qualquer fronteira. Apenas uma totalidade. E a escritora que também foi professora lembra-nos que «a escola é o espaço transformador por excelência». E quando pretendemos ver mais esclarecido o título deste livro, Lídia Jorge recorda-nos que a literatura é o prolongamento da infância do mundo. «A literatura mantém-nos diante da vida com o olhar da criança, o olhar do regenerador, aquele que acredita que existe uma salvação.»
Lídia Jorge parece ter sabido sempre que queria escrever. Nasceu em 1946 em Boliqueime, no Algarve, e foi protagonista de uma infância repleta de livros. Estudou Filologia Românica na Universidade de Lisboa, tendo recusado um convite para assistente da faculdade, porque o que queria era escrever obras, não analisá-las. Passados 10 anos, publicaria o seu primeiro título: O Dia dos Prodígios (1980). Ainda antes desse marco, porém, andou por África, com direito a testemunhar os últimos anos da Guerra Colonial, em Angola e Moçambique, albergando de forma muito particular nesse período matéria-prima de sobra para as suas obras. Foi professora, nos ensinos secundário e superior, mas foi na escrita, já muitíssimo traduzida e premiada, que Lídia Jorge carimbou incontornavelmente a literatura portuguesa, com romances, contos, ensaios, peças de teatro e argumentos infantis. Através da escrita, Lídia Jorge acredita poder criar de raiz «alguma coisa que acrescente beleza ao mundo». E à vida de todos os que somos os seus leitores.
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