Qual não é o meu espanto quando me apercebi de que o prestigiado pensador europeu, Dominique Wolton, estaria escalado para um painel na Fundação Serralves, inserido no ciclo de conferências “Utopias Europeias: o poder da imaginação e os imperativos do futuro”. Foi com imensa nostalgia que voltei a cruzar-me (pelo menos em pensamento) com o sociólogo com mais de 30 anos de investigação, autor de um dos livros mais emblemáticos que li no meu curso de licenciatura, Pensar a Comunicação, que me parece – apesar de todos os avanços tecnológicos – profundamente atual. Não fui, com muita pena, a Serralves, mas li Dominique Wolton numa entrevista que hoje dá ao Jornal de Notícias e que me levou de volta ao já amarelado mas firme na estante: Pensar a Comunicar.
Na entrevista, Dominique Wolton, deixa-nos um conjunto de ideias que considero muitíssimo relevantes para nós próprios pensarmos a comunicação nesta sociedade de informações tão abundantes e tão pouco hierarquizadas e, por isso, pouco frutíferas. Wolton enfatiza as contradições e refere que a mesma era que nos dá acesso a tanta informação e a inúmeros meios tecnológicos, caracteriza-se por erros, fake news e uma manifesta falta de confiança nos jornalistas, os quais, uma vez próximos do poder político, geram descrédito. Há, paralelamente, uma estandardização da informação. No mundo inteiro, a informação é tipicamente tratada da mesma forma. Mas os recetores têm um sentido crítico mais apurado e rejeitam progressivamente esse padronizar. Não só a informação parece ter menos qualidade, como parece até ser menos variada e variável. Embora surja em quantidades cada vez maiores. Para Wolton, porém, a aplicação indiscriminada do mesmo modelo de tratamento da informação é uma das falhas crassas. Não se pode «ignorar as especificidades culturais e religiosas», diz na entrevista ao Jornal de Notícias. Avança e revela as tiranias com as quais o jornalismo está comprometido: o progresso tecnológico e o dinheiro.
Wolton revela, ainda, que os «jornalistas venderam a sua alma» ao permitirem que com o seu trabalho coabitem modelos de aproximação ao jornalismo assinados por cidadãos anónimos que, com as próprias ferramentas e num habitat doméstico, exerçam a mesma atividade. O sociólogo chama então a atenção para o facto de não existir uma sociedade de informação, na medida em que a informação é do poder e não da democracia. Por isso, revela ser urgente repensar a liberdade da informação e reenquadra-la na importância do exercício do jornalismo enquanto arma essencial de contrapoder. E, ao contrário do que muitos profissionais dos media defendem, Wolton considera que no jornalismo deve ser progressivamente alargada a oferta, por forma a elevar o nível dos padrões culturais. Caso contrário, vingará a ditadura do tabloide.
O autor repara, também com inconformismo, na desvalorização, nos últimos anos, do papel essencial da comunicação, deixado para um segundo plano e ultrapassado longamente pelo da informação. A informação que, sabemos, por si só não se consubstancia em conhecimento nenhum e, como tal, terá a validade que a memória lhe quiser dar e dará apenas para um qualquer débito (não para nenhum exercício mais complexo da sabedoria).
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