Há mais de cem anos, Marcel Proust (1871-1922) escrevia um artigo para a revista La Renaissance Latine, o qual viria mais tarde a servir de prefácio à sua tradução de Sésamo e Lírios. Em plena transição de 2019 para 2020, o texto, considerado um dos mais bonitos do autor, continua completamente atual pela visão que defende sobre a importância dos livros no processo criativo e o papel insubstituível na vida.

Em O Prazer da Leitura, Proust refere, desde logo, que o papel dos livros é equiparável ao dos psicoterapeutas. Aos espíritos preguiçosos, diz Proust neste texto maravilhoso, a «única disciplina que pode exercer uma influência favorável» é a leitura. Chama a atenção, pois, para a quantidade de escritores tipicamente citados por gostarem «de ler uma boa página antes de começar a trabalhar». «Emerson começava raramente a escrever sem reler algumas páginas de Platão. E Dante não é o único poeta que Virgílio conduziu até às portas do paraíso», exemplifica.

Outra notícia que Proust nos dá, nesta sua apologia, é que «o gosto pelos livros aumenta ao mesmo tempo que a inteligência». Assim como, prossegue, com ela diminuem os perigos. E se intensificam as «boas maneiras» do espírito.

«Enquanto a leitura for para nós a iniciadora cujas chaves mágicas nos abrem no fundo de nós próprios a porta das habitações onde não teríamos conseguido penetrar, o papel dela na nossa vida será salutar». Leia-se que o que mais nos acontece com a leitura, segundo Proust, é um encontro com a verdade. À entrada da terceira década do século XXI, parece que o O Prazer da Leitura, para além de atual, surge urgente.

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