Fechei 2019 com um passeio fugaz, de novo, à bonita Évora. Por lá, voltei, também desta vez, a visitar o incontornável Centro de Arte e Cultura da Fundação Eugénio de Almeida e, concretamente, uma exposição sobre a qual me lembrei muito esta semana, a propósito da morte de George Steiner: Fahrenheit – A Consagração de Babel (aberta ao público até 29 de março).

Mapeando diferentes tipologias da criação artística, esta exposição proporciona-nos um contacto desejado com uma parte recente e significativa da obra do artista espanhol Luis Costillo (1956-2019), presente nesta fundação portuguesa ao abrigo do Projeto Campo Abierto, vocacionado para o intercâmbio entre entidades e artistas dos dois países da Península Ibérica.

Num recurso consciente ao livro para trabalhar temas sobre os quais não encontrou adequação aos quadros de parede, o recém partido Luis Costillo junta o literário à arte plástica. Surge neste âmbito o livro de artista numa conciliação exemplar entre os seus múltiplos materiais, os seus conteúdos, as suas formas e as suas diversas temáticas. O livro de artista apresenta-se, na atividade expositiva de Luis Costillo, como uma entidade própria, de identidade multidisciplinar.

Desafiando as convenções da linguagem e da lógica, o livro de artista de Luis Costillo, uma vez manuseado pelo visitante da exposição, sugere imediatamente uma empatia e uma interação com o artista e as suas ideias. E eis que se vislumbra o extraordinário mundo de babel, numa oportunidade dada ao espectador para a partir da história apresentada pelo artista criar, ele próprio, a sua história, baseada numa nova narrativa que de repente se imponha por sugestão. Pelo tato. Pela visão. O cheiro. Até mesmo o som. Uma nova visão de babel, a não perder.


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