Harold Bloom, um dos mais controversos e influentes críticos literários da atualidade, faz nesta obra determinante de 1973, A Angústia da Influência, um retrato das referências que pululam no pensamento e na atividade literária de vários dos autores incontornáveis e que contribuíram para a forma como na contemporaneidade pensamos a literatura.
Nesta 3.ª edição revista e aumentada da Cotovia, que encomendei já nos dias derradeiros da editora, é-nos dada uma tradução de Miguel Tamen. E à medida que avançamos na leitura vai-se tornando evidente o ponto de análise incontornável a partir do qual Harold Bloom desconstrói a influência sobre o pensamento literário comum: William Shakespeare. «Shakespeare influenciou o mundo muito mais do que o mundo começou por influenciar Shakespeare». É ele que faz a história, muito mais do que é a história feita por ele, defende o autor. Harold Bloom descreve Shakespeare como um cânone mundial (não apenas ocidental), com a angústia que isso possa causar.
«A verdade maior acerca da influência literária é que constitui uma angústia irresistível: Shakespeare não permite que o enterremos, ou que lhe fujamos, ou que o substituamos». «As origens têm uma importância particular para os escritores fortes. Nenhum outro grande poeta se afastou porém tanto das suas origens como Shakespeare (…)». «Como compreender a angústia? Angustiando-nos». É esta a premissa para a apologia de Harold Bloom.
Observamos neste livro, na linha de Rousseau, «(…) que nenhum homem pode desfrutar plenamente da sua individualidade sem a ajuda dos outros (…)». Reforça, contudo, Harold Bloom, numa das suas páginas avançadas no livro, que há por parte dos discípulos um ímpeto para superarem os seus mestres. Na referência feita a Kierkegard, no seu Panegírico de Abraão, recorda: «Todos serão lembrados, mas cada qual se tornou grande na proporção das suas expectativas. Um tornou-se grande por esperar o possível; outro por esperar o eterno; mas aquele que esperou o impossível tornou-se maior que todos».
Neste belíssimo ensaio, por vezes difícil, intrincado, somos levados a refletir sobre como os escritores contribuem para formar outros escritores. Sobre como o pensamento se faz de um pensamento coletivo, secular, maior do que nós. Para se organizar numa obra, num poema, num texto que carrega passado, presente e futuro.
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