Tive a honra de conhecer Francisco Jaime Quesado no âmbito da Plataforma Colaborativa Sharing Knowledge, por si desenhada e criada no início da pandemia, num movimento que aplaudo de agregação de pessoas e conhecimentos, ideias e valores. Com o propósito de construir, num ambiente de conciliação entre o individual e o coletivo, um futuro em que nos realizemos e do qual nos orgulhemos. Economista e com MBA pela Universidade do Porto, integrou o Grupo Amorim e a AEP – Associação Empresarial de Portugal, tendo liderado projetos nas áreas de Estratégia, Inovação e Competitividade. Foi também Gestor do POSC – Programa Operacional Sociedade do Conhecimento, que financiou muitas das iniciativas mais relevantes em TIC, em Portugal. Pós-graduado em Estudos Europeus e Ciência Política, foi docente na Universidade Católica Portuguesa e na Universidade do Porto, onde também estudou. Colabora regularmente com a imprensa, é autor de vários livros e, desde há 40 anos, é participante ativo de um contínuo exercício de cidadania e contribuição cívica para uma ideia de futuro mais evoluída e, nessa medida, mais humanista. Surge, agora, com uma nova publicação, Compromisso com o Futuro, cuja sessão de apresentação em Lisboa me desafiou a moderar, ao lado de dois outros renomados gestores, Fátima Carioca e Paulo Macedo. O que Francisco Jaime Quesado nos propõe, neste ensaio, é um pacto fundamental de gerações, nessa memória viva sobre a história que nos trouxe aqui e que nos impele a chegar (mais) longe. E, nesse caminho que podemos percorrer juntos, tenho o privilégio de colocar diretamente ao autor estas questões que me inquietaram ao ler o seu novo livro, que é um importante manual de inspiração sobre como mudar o mundo (para melhor). Vamos.   


Qual considera ter sido a sua principal motivação para escrever Compromisso com o Futuro, depois de 40 anos a contribuir ativamente para uma ideia “nova” de futuro?

Depois de o ano passado ter celebrado 40 anos de escrita com o Manifesto Nova Competitividade, em que sintetizei as principais ideias na área da inovação e conhecimento que fui desenvolvendo e praticando neste período, senti a necessidade de complementar esse exercício com uma reflexão mais conceptual e, em certa medida, filosófica, sobre a dimensão de interdependência que teremos sempre que saber manter viva entre o sentido do passado, o momento do presente e a ambição do futuro.

Dado o tempo de incerteza, crise e imprevisibilidade que atravessamos, e ao qual não raras vezes se refere no livro, como podemos enquadrar a ideia de “compromisso com o futuro”?

Os tempos acelerados e incertos que estamos a viver, em que a competição global e a inteligência artificial introduziram novas dimensões de complexidade, exigem um novo sentido de inteligência coletiva, assente num propósito muito claro e numa agenda de confiança assumida por todos. O compromisso com o futuro assenta, precisamente, nessa ideia de que a civilização vai evoluir com a tecnologia e a inteligência artificial para novos patamares de conhecimento para os quais os cidadãos, as organizações e as comunidades terão que estar devidamente preparados.

Este é um compromisso que tem de partir de cada um de nós, através do nosso contributo individual, mas que só terá sucesso se estiver alicerçado num forte sentido de cooperação social (…).

A expressão “compromisso”, que decidiu incorporar no título do livro, sugere uma responsabilidade. Quem deve estar envolvido neste compromisso, que é uma responsabilidade, simultaneamente, individual e coletiva?   

Não será possível aspirar a ter uma sociedade aberta e uma economia competitiva sem um forte sentido de responsabilidade social e uma aposta numa estratégia aberta e colaborativa de valor partilhado. Este é um compromisso que tem de partir de cada um de nós, através do nosso contributo individual, mas que só terá sucesso se estiver alicerçado num forte sentido de cooperação social, em diferentes níveis e com uma postura aberta de aprendizagem e partilha permanente de ideias e conhecimento.

As áreas de estratégia, inovação e competitividade têm ocupado grande parte do seu tempo de reflexão e intervenção na sociedade portuguesa e internacionalmente. Que papel têm nesta ideia de futuro que advoga?

Na linha do que o recente Relatório Draghi defendeu para a Europa, a aposta numa estratégia de inovação aberta e competitiva, assente na criação de valor, será a única forma de conseguir construir o futuro de forma estruturada e participada, com impacto na qualidade de vida das pessoas. Como defende muito bem Peter Drucker, o futuro não se define por decreto, mas tem de ser criado por todos com uma agenda de confiança na capacidade de ser melhor e na competência de se ser mais inovador.

Num mundo incerto e complexo como este em que vivemos será fundamental revisitar os alicerces básicos da cultura, educação e identidade de valores que moldaram a história do passado e nos condicionam o presente em que vivemos.

No livro, é-nos implicitamente pedido um pacto fundamental de gerações. Que educação, qualificações e valores considera deverem ter para enfrentar o futuro, as gerações mais novas, esse laboratório vivo com o futuro provisoriamente inteiro nas mãos? 

O contrato inter-geracional será, em grande medida, a chave para o sucesso do compromisso com o futuro a que aspiramos como sociedade. Num mundo incerto e complexo como este em que vivemos será fundamental revisitar os alicerces básicos da cultura, educação e identidade de valores que moldaram a história do passado e nos condicionam o presente em que vivemos. Este é um objetivo que exige uma aposta muito forte na educação como o operador de modernidade para um futuro mais ambicioso.

Pegando no significado de Simone Weil, que cita no ensaio, sobre a construção do processo identitário enquanto exercício de leitura da sociedade, pergunto-lhe em que pessoa se tornou após mais de 40 anos a observar(-nos) e a escrever?

Os nossos percursos são feitos de momentos que são muito as circunstâncias em que estamos. Ao longo destes 40 anos de escrita e de intervenção cívica, tenho procurado ter uma leitura atenta e participada aos diferentes contextos em que tenho estado envolvido e integrar nas minhas reflexões e contribuições o resultado de um forte sentido de partilha que sempre procurei incentivar e dinamizar, em cooperação com todos os que fazem parte deste percurso.

A Plataforma Colaborativa Sharing Knowledge, que iniciámos há 4 anos e meio, no início da pandemia e hoje com mais de 800 membros – gestores, académicos e outros especialistas – é uma comunidade aberta de partilha e discussão de ideias e conhecimento que nos ajudem a ter mais competência e qualidade no que fazemos.

Para terminar, aonde pretende levar a sua Plataforma Colaborativa Sharing Knowledge, cujo propósito se inscreve também numa ideia de Compromisso com o Futuro?

A Plataforma Colaborativa Sharing Knowledge, que iniciámos há 4 anos e meio, no início da pandemia e hoje com mais de 800 membros – gestores, académicos e outros especialistas – é uma comunidade aberta de partilha e discussão de ideias e conhecimento que nos ajudem a ter mais competência e qualidade no que fazemos. É um percurso conjunto que tem corrido muito bem e pretende no futuro reforçar o nosso verdadeiro sentido de compromisso com o futuro.

Entrevista a Francisco Jaime Quesado 72

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