Amor e Informação, em palco no Teatro Aberto (Sala Azul), em Lisboa, é a peça que acabo de ver e ainda me encontro a digerir, com encenação de João Lourenço e autoria de uma das mais modernas dramaturgas da atualidade, a inglesa Caryl Churchill. São 50 peças, curtíssimas mas muito intensas, dentro da mesma peça, numa sequência de quase duas horas ininterruptas. No final, fica um arrepio de vazio e preenchimento ao mesmo tempo (são díspares os testemunhos de quem se sentou na Sala Azul a assistir), pela interpretação feita à medida que a própria atuação decorre (e com maior lucidez depois de a peça terminar) dos códigos e linguagens do quotidiano, afinal, de todos nós. Através de uma miríade de materiais audiovisuais a acentuar uma vertente criativa muito consistente (e, de certa forma, original para o universo do teatro), a peça Amor e Informação leva-nos a viajar aos primórdios da história e a imaginar a presença da tecnologia de hoje um pouco por todas as épocas (sendo a peça da última ceia a que melhor representa essa ideia). Seguindo a linha de atuação tipicamente explorada no Teatro Aberto, num registo contemporâneo, Amor e Informação transporta para o teatro a mensagem e a efemeridade da tecnologia que hoje soberanamente nos rodeia. Adiciona-lhe também a linguagem musical, retratando o amor e a informação em variações importadas da música.
A exposição aos diversos tipos de informação a que permanentemente estamos sujeitos, de forma contínua (como acontece com o tempo, que não para). As diferentes reações às mesmas informações. Com base na forma como se recebe, interpreta e usa a informação, esta peça analisa o conceito atual de amor. O estado para que caminhou hoje o amor. E, com isso, faz o retrato também do desamor, da perda, do luto. A par e passo, Amor e Informação explora as várias perceções da memória e da identidade, por via do significado das palavras e do sentido atribuído à vida. Tudo isto nas mãos de mais de 100 personagens, com interpretação a cargo de um elenco de luxo com nomes do teatro e da TV, caso de Irene Cruz e Ana Guiomar. João Lourenço, o cicerone do Teatro Aberto que começou em 1966 por criar o Grupo 4 e, em 1982, o Novo Grupo, que hoje perdura, ficou após a peça em pleno palco, rodeado dos atores, para uma conversa aberta ao público (através da qual, confesso, fiquei a perceber muito melhor o que Caryl Churchill quis dizer com Amor e Informação). Amor e Informação está em cena até 15 de março de 2015.
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