Theodor W. Adorno (1903-1969) e Max Horkheimer (1895-1973) deixaram às ciências da comunicação um legado importantíssimo: a elaboração do conceito de indústria cultual, que pressupõe a mercantilização da cultura, um efeito do desenvolvimento tecnológico e da capacidade de produção e reprodução industrial. Uma vez exilados nos EUA, corria a década de 1940, os autores rapidamente apreenderam a lógica industrial e comercial inerente aos bens culturais, submetidos como quaisquer outros à seriação, padronização e divisão de tarefas laborais. A partir deste argumento, contribuíram para a reflexão da evolução da cultura e, ainda, incluindo na sua pesquisa um olhar sobre os públicos da cultura, deixaram pistas de investigação fundamentais sobre a forma como se dá o consumo da cultura na contemporaneidade.
Este é o ponto de partida para a análise que Rogério Santos, crítico cultural e professor de comunicação – de quem tive a oportunidade de ser aluna no mestrado em Ciências da Comunicação na Universidade Católica Portuguesa –, faz há 13 anos consecutivos no seu blogue Indústrias Culturais, em industrias-culturais.blogspot.pt/. Este sítio na internet é uma referência entre investigadores, alunos e simples curiosos que, no virar a página do século XX, vieram a aperceber-se de que o aparecimento das chamadas novas tecnologias, as potencialidades do digital e a proliferação de equipamentos móveis acentuaram vertiginosamente a teoria de partida de Adorno e Horkheimer. No seu blogue, Rogério Santos identifica as indústrias culturais, partilha os seus elementos distintivos e, desse modo, dá contributos para uma reflexão mais rica, esclarecida e alargada.
À análise das indústrias culturais, caso da televisão, do cinema, da música, da fotografia, Rogério Santos junta a visão sobre as indústrias criativas, que ganharam força no universo das artes e do espetáculo e que, nas suas sinergias com as indústrias culturais, influenciam significativamente a formação do PIB dos países. Daí a importância de observar com atenção o desenvolvimento desta área. E, paralelamente, não menos importante, porque a confluência das indústrias culturais e criativas tem vindo a alterar profundamente a relação de cada um de nós com a cultura, a forma de a percecionar e, afinal, de a consumir. Com as repercussões que a cultura tem sobre os valores, a educação, a formação dos indivíduos e, desse ponto de vista, sobre o desenvolvimento da sociedade…
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