De boas pessoas esteve o Teatro Aberto cheio, pelo menos até ontem, último dia da peça com o mesmo nome – Boas Pessoas –, que levou a palco um belíssimo elenco, com Irene Cruz, Leonor Seixas, Maria João Abreu e Pedro Laginha em destaque. Não quis nem por nada perder esta peça, para constatar até onde iam nesta interpretação a ideia de boas pessoas (tão denegrida) e o seu contrário (tão apreciada). Com argumento do norte-americano David Lindsay-Abaire, a peça estreou-se em 2011 na Broadway com a mesma intensidade narrativa que chegou ao teatro da Praça de Espanha, em Lisboa.
Margarida, interpretada por Maria João Abreu, vive no bairro pobre onde nasceu, namorou pela juventude com um rapaz que se transformou num médico de sucesso, com interpretação de Pedro Laginha, e engravidou de um outro rapaz, do qual mal se ouviu falar. Ambos os rapazes saíram do bairro. Mas Margarida não. Foi por lá que permaneceu como mãe solteira de uma menina nascida prematura e deficiente. Por lá arranjou dezenas de empregos e, por problemas gerados na sua pobreza de vida, dezenas de empregos perdeu.
É precisamente a procura de um novo emprego que surge como o detonador para reencontrar o seu antigo namorado que se fez à estrada e, saído do bairro, chegou a médico e casou com a filha de um outro médico. Nesse reencontro, vemos saliente a fragilidade do casamento aparentemente perfeito do seu antigo namorado…
Pelo meio há jogatanas de Bingo que juntam à mesma mesa personagens secundárias que vão ateando a narrativa com ideias sórdidas sobre como se faz o percurso do sucesso. É a procura da sorte no jogo do azar. É também a reflexão sobre como se desafiam as origens para chegar ao topo. É ainda a apologia do destino ou da capacidade de o enfrentar e de, pelo caminho, ser boa pessoa ou nem por isso.
Entre cada uma das cenas, todo o mobiliário vai entrando e saindo pela mão de atores disfarçados de coelhos, a fazer lembrar a sombra da atriz principal. Em palco, os atores desfilam do início ao fim da peça em cima de blocos em forma de quadrado, a fazer lembrar um tabuleiro de xadrez. E a questão fica em aberto: quem são afinal as boas pessoas?
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