De novo em Díli, a caminho de Jaco
Já em Díli, seguiu-se a preparação da ida para Jaco, a ilha virgem na ponta mais oriental de Timor-Leste que nos deixou o coração a bater mais depressa. O caminho de jipe foi conseguido à conta de sacudidelas típicas de um veículo que percorre uma estrada mal calcetada.
A primeira escala, praticamente obrigatória para quem partiu de Díli quase ao final da tarde, seria Baucau. Antes passámos por Manatuto, a terra onde sabíamos ter nascido Xanana Gusmão, o então primeiro-ministro. De quilómetro em quilómetro, com o som da noite calma e o adiantar de várias conversas sobre viagens, chegámos à Pousada de Baucau, onde desejávamos com ansiedade pernoitar confortavelmente. Antes veio um belíssimo jantar, servido pelas “manas” (as empregadas) estouradas pelo movimento e o avançar da hora. À mesa, nem o cansaço que Ataúro ainda causava fez esmorecer uma das melhores conversas que tivemos em toda aquela viagem…
Na manhã seguinte, de novo no jipe, continuámos caminho até Tutuala. Em cada uma das margens da estrada, fomos encontrando pequenas comunidades de timorenses no esplendor do seu dia a dia. À nossa passagem reagiam com intensos acenos de mão e gritos cheios no pronunciar do termo malae, que significa estrangeiro. Do carro dava para perceber as condições precárias em que vivem, das quais se reflete uma grande habilidade para a simplicidade. No meio da estrada surgiam crianças em filas disciplinadas para ver melhor o nosso carro e as gentes que nele iam dentro.
Quando, finalmente, chegámos a Tutuala, uma quantidade inesperada de borboletas (o meu inseto favorito) surgiu no meio da vegetação intensa, escondendo a entrada extraordinária no segundo eco resort que nos acolhia em Timor-Leste. Apenas demos tempo à reserva dos quartos, os últimos então disponíveis e que, por sorte, estavam ainda ali a aguardar a nossa chegada.
Depois de termos garantido os mantimentos necessários para à noite cearmos, rumámos a Jaco num barco frugal de pescadores que, a todo o momento, parecia poder virar-se ao contrário e fazer perder-nos no mar junto a Tutuala. Antes que isso acontecesse, chegámos a Jaco, onde estivémos cerca de cinco horas. Uma pequena língua de terra com 10 km² de área inabitada, com uma beleza natural singular, Jaco abriga algumas espécies de aves endémicas, posicionando-se como agente promotor da biodiversidade, razão que lhe valeu a sua inclusão no Parque Nacional Nino Konis Santana, o primeiro Parque Nacional de Timor-Leste.
Aos olhos dos autóctones, a ilha de Jaco é considerada sagrada. E também aos nossos, pelo menos a partir daquele dia. Possivelmente, foi aqui que confirmei o quanto Timor-Leste pode acelerar-nos o coração… De volta a Tutuala, ceámos num dos espaços comuns do eco resort. Com o estômago já amparado num dos melhores peixes cozinhado pela comunidade local, detivemo-nos noutra das melhores conversas que por lá tivemos. Ali o tempo podia cristalizar-se que não daríamos conta…
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