Estou para ir ao Museu de Arte Popular (um dos poucos edifícios restantes da Exposição do Mundo Português, de 1940), onde nunca havia estado, desde que estreou a tão aguardada exposição do artista gráfico holandês Escher, patente até maio de 2018. Foi o que fiz neste domingo.

Maurits Cornelis Escher. Cuja evolução da vida artística está nesta primeira exposição do autor em Lisboa, promovida pela italiana Arthemisia, um dos maiores promotores de eventos de arte do mundo. Escher é o artista típico que conhecemos mais pela sua obra, do que pelo seu rosto. Lembro-me de ver algumas das suas gravuras nos sucessivos livros de história selecionados pelas escolas. Mas mesmo que não nos tenhamos cruzado com as suas obras mais emblemáticas, deparámo-nos certamente com a sua assinatura em capas de discos, caso dos Pink Floyd, séries televisivas, como Os Simpson, ou campanhas publicitárias, nomeadamente do IKEA.

Com 200 obras do artista, esta exposição está inserida numa sequência de salas pintadas de vermelho escuro, com luzes a incidir estrategicamente sobre as gravuras, que vão alternando simetrias, tesselações, metamorfoses, geometrias. São temas preferenciais do autor a ciência, a natureza, a arquitetura.

Numa primeira fase, surge-nos um Escher influenciado pela escola de Artes Decorativas e Arquitectura de Haarlem, na Holanda, onde andou. E aqui sobressaem a natureza, a fauna, a flora, também inspiradas nas viagens que o artista fez ao sul de Itália, aquando da sua residência em Roma. Começamos a ver nos seus trabalhos interpretações geométricas e abstratas da matéria-prima envolvente. Escher começa a ganhar a admiração e o respeito da comunidade científica, particularmente de matemáticos.

Mais tarde, numa espécie de adolescência artística, vemos surgir as tesselações na obra de Escher. O artista havia deixado uma Itália governada pela ditadura de Mussolini. Seguiram-se viagens ao sul de Espanha, onde se impressionou com a Alhambra de Granada e a Mesquita de Córdoba, que o levaram a estudar meticulosamente os desenhos de artesãos do século XIV.

Vamos absorvendo, a partir da obra amadurecida de Escher, paradoxos geométricos e erros de perspetiva que nos conduzem à construção de figuras completamente novas, embora parecendo familiares. É, possivelmente, a pertinência de uma espécie de “matemática escheriana”.

Numa fase mais avançada da sua vida, Escher começa a receber encomendas provenientes de inúmeras partes que o notabilizaram nos universos da arte e do design, com predominância da cultura pop. As suas mãos criaram obras a pedido para a música, a televisão, a indústria de entretenimento, a moda, a publicidade, a ciência.

Escher fez História. E é essa história que esta exposição nos conta.

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