Não a conheço, mas conheço quem a conhece. Edita livros, é uma leitora voraz e uma escritora admirável. Se eu escrevesse como ela, aí sim, escreveria um livro. Chama-se Maria do Rosário Pedreira e, paralelamente à atividade editorial, alimenta diariamente o blogue Horas Extraordinárias (as horas que passamos a ler), que sigo desde que um amigo escritor, cujos últimos livros foram por ela editados, me falou do seu nome como uma referência nos blogues de literatura em Portugal. Nas Horas Extraordinárias fico sempre a saber as últimas da literatura, que abrangem com o mesmo nível de profundidade e interesse desde os critérios do prémio Nobel aos sapatos de Agustina Bessa-Luís. Nos seus textos encontramos referências tão diversificadas e díspares, que englobam os policiais de Agatha Christie, um dos maiores escritores argentinos do século XX, Julio Cortázar, a poesia inconfundível do chileno Pablo Neruda, o nosso Fernando Pessoa, o também nosso José Saramago… e continuaria a enumerar eternamente. Na qualidade de editora, e com um irrepreensível sentido matriarcal, dá não raras vezes a conhecer as obras dos seus acarinhados escritores, descrevendo com orgulho mas com enorme seriedade os seus trabalhos publicados. Pelas palavras que escolhe para dizer o que diz (ou o que escreve, neste caso), ficamos a saber que possui pela língua um respeito de discípulo. Mas é mestre. Escreve com aquela simplicidade profunda tão difícil de apanhar. É íntima da literatura, ao ponto de conseguir contagiar e inspirar o leitor com os aspetos literários mais colaterais que possamos imaginar. Outro dia falava de um caderno que encontrou à venda, o Diário de Leituras, no qual podemos contra a traição da nossa própria memória apontar os títulos que andamos a ler, os resumos, as frases sublinhadas. A forma apaixonada como escreve sobre um mero caderno de memórias faz-nos esquecer que é nos terminais móveis que hoje apontamos tudo. Como se de repente passássemos a desejar ter aquele bloco específico para passar a anotar coisas à mão. Num outro texto, mencionava o nível cultural da cidade de São Paulo e o seu fantástico Museu da Língua Portuguesa. Num outro, ainda, desencantou uma das crónicas de Miguel Esteves Cardoso publicadas no Público. Para não falar, claro, de quando fala na Feira do Livro e do que por lá se pode encontrar para ler e não só. Depois de seguirmos Maria do Rosário Pedreira no seu blogue, difícil será não serem extraordinárias as horas que passamos a ler. E a lê-la. A meu ver.
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