Na matemática vê poesia. Apaixonou-se incorrigivelmente pela disciplina que todos os anos é apontada como responsável pela definição forçada de tantos percursos escolares, seja por “empurrar” sistematicamente alunos para estudos na área das humanidades, seja por se constituir como a principal barreira à entrada de tantos outros nas universidades portuguesas. Chama-se Jorge Galhardas e é o mentor e responsável pela criação do Matematik, a primeira ferramenta no Mundo (assim o afirma) que junta ativamente docentes, encarregados de educação e alunos no processo de ensino e aprendizagem da matemática. No Matematik todos trabalham em equipa, ao longo de todo o ano escolar, tendo como objetivo maximizar as competências dos alunos nesta disciplina. Este é o caminho, acredita, para reconciliar os alunos com uma das áreas do saber mais críticas e importantes para o nosso desenvolvimento coletivo, e que há anos se encontra invariavelmente associada a maus resultados. Jorge Galhardas ter-se-ia licenciado em direito na Universidade Católica Portuguesa se não tivesse (por esta ordem) deixado o curso no terceiro ano, cumprido o serviço militar, voltado ao 10.º ano de escolaridade para fazer as disciplinas da área A (matemática, biologia e química) e ingressado no curso de Ciências Farmacêuticas. Neste trajeto redescobriu a matemática e acabou a acompanhar o estudo da disciplina e a sua preparação para ingresso na universidade de inúmeros estudantes do ensino secundário, tudo enquanto decorria a sua própria licenciatura em Ciências Farmacêuticas. Testemunhou a angústia de dezenas de jovens com a matemática a atrapalhar a entrada no ensino superior, e refletiu bastante sobre as causas de tantas dificuldades e possíveis maneiras de as ultrapassar. Se para si a matemática era fascínio, descoberta e excitação permanente, por que motivo tanta gente tinha tão má opinião dela? Na frequência da sua licenciatura em Ciências Farmacêuticas, onde finalmente se encontrou, viveu o boom da Internet em Portugal e cedo se apercebeu das suas vantagens enquanto instrumento de comunicação global. Na posse desse entusiasmo, pensou em criar um projeto online de explicações de matemática. Por motivos vários, a ideia foi posta a marinar numa gaveta e, 10 anos depois, em outubro de 2014, arrancou. Pelo meio, integrou os quadros de uma empresa de telecomunicações e regressou à Universidade Católica Portuguesa para fazer um MBA, que concluiu com distinção e que lhe proporcionou um convite para dar aulas. A necessidade de aprofundar noções de gestão e de se munir de instrumentos de formação para evoluir na carreira profissional lançaram o mote para voltar a estudar. Mas a verdadeira realização profissional viria a ligar-se decisivamente à matemática. Na tentativa de construir um plano profissional alternativo e estimulante, lançou o Matematik. Com 48 anos de idade, Jorge Galhardas chega à conclusão de que a solução para o desemprego não é colecionar “canudos” ou ingressar numa grande empresa. O combate ao desemprego pode passar por pequenos rasgos de empreendedorismo, como o Matematik, nascidos entre ideias simples mas com aplicação prática e global. O homem que se apaixonou irreversivelmente pela matemática quis dar uma utilidade de interesse público à sua paixão e, para falar do Matematik, está aqui Entre Vistas.
Começo por uma frase da sua autoria: «A matemática permite projetar e fazer coisas». A que coisas se refere? Por onde anda a matemática?
A matemática está em todo o lado. Tudo o que é construído pelo homem à escala industrial exige um projeto e qualquer projeto exige cálculo. E é só por via do projeto que as ideias inovadoras se materializam e, com isso, é que se consegue obter um desenvolvimento económico sustentado. A propósito disso, aproveito e conto uma história muito engraçada… Um dia, em 2008, estava eu em Xangai a assistir a uma conferência de um alto quadro da Siemens na China, na qual este homem de grande destaque no setor falou das vantagens de as fábricas europeias estarem na China, das taxas de crescimento anuais fabulosas registadas nesse país – crescimentos anuais na ordem dos 10%, 15%, etc. Quando terminou a sua intervenção, há um colega meu que coloca o dedo no ar e diz: «Explique-me uma coisa: se a economia chinesa cresce a essa velocidade, não vai demorar muito tempo para que a China ultrapasse a Europa e os Estados Unidos, afirmando-se como o motor económico mundial. Não tem receio disso?». A resposta foi a seguinte: «Não, não tenho receio nenhum e explico porquê. Sabe qual o valor de um iPod, que é feito na China, à saída da linha de montagem? 1 dólar. Um iPod custa 1 dólar a ser produzido e é depois vendido na Europa e nos Estados Unidos por 450 dólares. O que quero eu dizer com isto? Quem ganha dinheiro a sério é quem projeta, não é quem executa. Neste momento, a economia chinesa cresce, é certo, mas enquanto se cingir ao lado que executa nunca poderá constituir uma séria ameaça a quem projeta». E, digo eu agora, para projetar é necessário pensar diferente e executar cálculos. Só posteriormente se passa à execução. Não me basta indicar a uma fábrica que quero, por exemplo, um telemóvel sem teclas. Tenho de projetar um telemóvel sem teclas, definir todas as suas características e funcionalidades e, só depois, vou saber quem o pode produzir. Ora, é precisamente a matemática que permite converter boas ideias em projetos. Tudo o que não é obra da natureza em estado livre, ou seja, tudo o que é feito pelo homem à escala industrial, tem de ser projetado. E aí entra o cálculo. Portanto, a matemática está em todo o lado!
Quando nasce o seu interesse pela matemática?
Quando saí de direito… aí a matemática apareceu na minha vida de forma mais consciente e séria. Em pequenos, eu e o meu irmão mais velho projetávamos os nossos brinquedos. Embora sem grande consciência da importância da matemática, apercebi-me da importância de medir, comparar tamanhos, avaliar diferentes tipos de superfícies, percecionar áreas… Um dos brinquedos que fizemos e que me marcou imenso, por exemplo, foi uma máquina de flippers. Rapidamente percebi que não é possível construir um bom brinquedo, minimamente sofisticado e interessante, sem fazer um projeto. E sem cálculo. É claro que se nos deixarmos ficar no domínio do artesanal, o cálculo não será fundamental. Como sair, saiu! Mas se nos referimos ao domínio da produção em série, aí tem de inevitavelmente haver cálculo. Entretanto fui para a escola e, no final do 9.º ano, fatalmente, fui para a área de letras. Aliás, não terá sido assim tão fatalmente, porque eu gosto muito de escrever e ler. Adoro poesia… Talvez não estivesse ali tão mal quanto isso. Na verdade, a fatalidade é que, à luz do nosso sistema de ensino, as pessoas são consideradas binárias: ou gostam de ler ou gostam de números e, sob essa premissa, são obrigadas a escolher um de dois mundos que não mais se tocam. Ao enveredar no final do 9.º ano pelas letras, perdi o contacto com a matemática. E, anos mais tarde, quando resolvi sair de direito, dei por mim sem saber somar frações…
Portanto, a matemática surge, nessa altura da sua vida, do zero…
Aí surge do zero, de facto.
Ainda assim, a predisposição para a matemática já lá estava… desde o tempo em que projetava os seus próprios brinquedos…
Sim, já lá estava! Aliás, quando decidi sair de direito, já sabia que era para ir fazer matemática. É claro que a minha família e todos os meus amigos me caíram em cima, mas eu sabia que ia conseguir. Encontrava-me então na Universidade Católica Portuguesa, no 3.º ano do curso, mais concretamente no meio de uma frequência de direito das obrigações, em fevereiro. Às tantas, agarrei no código civil, fechei-o, levantei-me e saí porta fora. Foi uma decisão difícil, que deixou toda a gente a olhar para mim como se eu fosse um extraterrestre…
Foi o último dia de direito?
Sim, foi o último dia de direito. No dia a seguir levantei-me, agarrei em todos os livros de matemática que tinha lá em casa e levei-os para o meu quarto, onde fiquei encerrado quase ininterruptamente durante três meses. Fiz dezenas e dezenas de exercícios e fui, sozinho, resolvendo todas as minhas dúvidas, sem nunca avançar enquanto não tivesse a matéria para trás toda sabida e bem compreendida…
– O Matematik recolhe os dados gerados na resolução de exercícios, trabalha-os e produz informação estatística relevante para alunos, pais, encarregados de educação, professores e escolas.
– Com o Matematik, os alunos podem aferir, a todo o momento, as suas debilidades e fortalezas, agindo em tempo útil para garantir o seu sucesso escolar.
Centremo-nos no Matematik. Como surgiu o conceito subjacente a este projeto?
O Matematik é o resultado da evolução de um processo que se confunde um pouco com a minha própria vida. Ainda no tempo em que estudava matemática, como me voluntariava várias vezes para ir ao quadro resolver exercícios (não me importava de me expor, mesmo que errasse), fui abordado por umas colegas no sentido de passar a dar-lhes explicações. Ora aquilo para mim foi uma surpresa, um desafio e um risco, risco esse que rapidamente fiquei a perceber que ia correr. Nunca achei que pudesse dar certo. Mas deu! Tanto deu que acabei por acompanhar estudantes de matemática durante mais de dez anos consecutivos. Portanto, conciliei a minha licenciatura em Ciências Farmacêuticas com o acompanhamento de estudantes de matemática do ensino secundário. Comecei então a ter imensa procura. Logo no início de cada ano escolar, ainda em setembro, ficavam definidos os grupos de alunos com quem ia estudar matemática. Entretanto apareceu a Internet. Quase no final do curso, quando a Internet já se tinha banalizado entre os estudantes, pensei que o ensino de matemática online poderia ser um bom negócio. Na altura cheguei até a falar sobre esta ideia com dois amigos meus – um colega de curso, Nuno Silva, e um assistente universitário, Luís Gouveia, hoje professores na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa – para percebermos em conjunto se o projeto teria pernas para andar mas, à época, nem a tecnologia permitia ainda algo parecido com o Matematik – ainda nem sequer se falava em e-learning –, nem nós tínhamos os conhecimentos necessários para levar a ideia a bom porto.
Então, nessa altura, o projeto foi para a gaveta…
Sim, aquilo que veio entretanto a ser o Matematik foi naquela altura para a gaveta… marinar. Acabei então a licenciatura em Ciências Farmacêuticas e iniciei a minha atividade profissional. Trabalhei numa fábrica de medicamentos, onde tive muita dificuldade em ambientar-me. Mais tarde, integrei uma empresa de gestão de planos de saúde e aí, no âmbito dessa experiência profissional, senti necessidade de adquirir competências de gestão para poder evoluir profissionalmente. Não pensei duas vezes: fui fazer um MBA. No MBA tive várias cadeiras marcantes que me fizeram voltar a pensar no projeto de ensino de matemática online. Destaco uma, strategies for e-business, lecionada por um professor argelino, Tawfik Jelassi, que vinha de Paris aos sábados para nos dar uma aula de quatro horas. Este professor dá aulas em Paris, nos EUA e, em Portugal, na Universidade Católica Portuguesa. Este senhor foi verdadeiramente inspirador para o Matematik. Um outro professor do MBA, Paulo Amaral, também tem que ser mencionado. Com ele tive as cadeiras de information management e knowledge management. No final do MBA, o professor Paulo Amaral convidou-me para dar aulas de management of information systems. O Matematik também foi beber destas cadeiras e dos seus ensinamentos. Anteriormente, na licenciatura em Ciências Farmacêuticas, tive uma cadeira lecionada pelo professor Luís Gouveia, cuja matéria se revelou fundamental para a estruturação do Matematik: quimiometria (estudo de sistemas ou processos químicos, mediante obtenção de informações sobre os mesmos através da aplicação de métodos matemáticos ou estatísticos). Ainda hoje o professor Luís Gouveia, que leciona cadeiras de tecnologia farmacêutica e quimiometria na Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa, pede a minha colaboração ocasional nas suas aulas de quimiometria.
Teve, portanto, três grandes impulsionadores a incentivar o nascimento do Matematik…
Sim. Esta triangulação de saberes permitiu-me ir consolidando mentalmente o Matematik. Ao longo do tempo, com a experiência que fui ganhando no contacto com os alunos de matemática do ensino secundário, fui percebendo que a ideia convencionada de que os portugueses não têm jeito para a matemática não corresponde à verdade. Convivi de perto com vários estudantes que se afirmavam completamente zangados com a matemática e que, depois de muito trabalho e dedicação, alteraram a sua opinião em relação à disciplina. E isto não aconteceu com poucos! Passo a passo, fui ganhando a convicção de que o problema, ou pelo menos uma boa parte do mesmo, poderia estar na forma como o percurso matemático dos alunos está desenhado e no modo como se vai medindo o estado do saber dos mesmos. O sistema permite que os alunos progridam sem aproveitamento a matemática até ao 9.º ano de escolaridade e esta é a primeira – e a maior – armadilha de todas. Os alunos chegam a um ponto em que é impossível entender o que está a ser ensinado pelos professores na sala de aula, pois a matemática (atenção!) exige a todo o momento que se saiba toda a matéria, de todos os anos letivos anteriores. No que toca ao trabalho dos alunos, o mesmo é avaliado nos testes escolares, os quais não são mais que dois em cada período de aulas. É nesses momentos que os alunos tomam conhecimento da qualidade do seu trabalho. É também nesses momentos que os professores tomam consciência, em profundidade, do estado do saber dos alunos. Porém, acontece que, entre cada dois testes, muita matéria pode ser dada na sala de aula, matéria essa que, para ser devidamente compreendida, pode exigir o conhecimento prévio de outras matérias. Seria útil, para não dizer fundamental, que os alunos soubessem, a todo o momento, quais são as suas lacunas. Seria útil, também, que o professor pudesse saber, com toda a segurança, se os alunos estão em condições de entender a nova matéria que vai ser lecionada.
Cada aluno, mediante o uso regular do Matematik, poderá saber, independentemente dos diferentes critérios de atribuição de notas a que possa estar sujeito na sua escola, qual é o seu lugar no mapa escolar português: dentro da respetiva turma, na própria escola e, ainda, no país.
É precisamente desse pressuposto de que parte o Matematik, certo? O aluno só progride se conhecer e dominar os conceitos anteriormente aprendidos (e apreendidos)…
Bem, de facto, o pressuposto base do Matematik é esse. Parece-me que há uma perversão no sistema quando se permite que os alunos façam praticamente metade do seu trajeto escolar com negativas sucessivas a matemática. As lacunas acumuladas neste trajeto são tantas, que chegará certamente o momento em que não será mais possível evoluir. É a facilidade inicial que vai acabar por condenar os alunos ao fracasso, e isso vai acontecer num momento em que os mesmos já não terão hipótese de agir para evitar esse desfecho. Aos professores, de acordo com a forma como o ensino está desenhado, é difícil saber, com regularidade e exatidão, qual o estado do saber dos alunos, pelo menos dentro do perímetro da sala de aula. Apenas acedem a essas métricas nos momentos de avaliação formal, que são cirúrgicos e muito afastados no tempo, ficando sem possibilidade de ajustar as matérias e a cadência de ensino à realidade de cada turma. De facto, o sistema de ensino tradicional não permite, nem sequer prevê, esta flexibilidade por parte do professor. No sistema de ensino tradicional, o professor vai dando a matéria na esperança de que os alunos a vão apreendendo a tempo de chegar com preparação aos exames. O sucesso está reservado aos que conseguem ir acompanhando o ritmo predefinido, os outros perdem-se. E o grave (e triste) é termos tantos alunos tão inteligentes a perderem-se completamente. No sentido de colmatar esta dificuldade, pensei: seria importante arranjar uma ferramenta que permitisse ao professor medir todos os dias, sem a carga da avaliação formal, quais as lacunas dos alunos com impacto nas matérias que vai lecionar a seguir; por outro lado, essa ferramenta também deveria informar os alunos dessas mesmas lacunas e o modo ideal de as ultrapassar, orientando-os no estudo. Com tal ferramenta estariam reunidas as condições para um diagnóstico precoce, ou seja, existiria um aviso prévio que iria permitir agir em tempo útil, de modo a potenciar o bom desempenho nesta disciplina e os bons resultados nos exames. Estamos a falar, metaforicamente, de medicina preventiva.
E, literalmente, do Matematik…
Sim, do Matematik. Onde é que está a originalidade do Matematik? Se eu compilar os exercícios dos exames, à luz dos programas desenhados pelo Ministério da Educação, se os classificar entre fáceis, médios e difíceis, se permitir medir o tempo de resolução de cada exercício, se possibilitar ao aluno ter acesso a ajuda nessas resoluções… Estarei no fim deste processo em condições de extrair informações fundamentais para gerar um relatório de desempenho a dar ao aluno. Paralelamente, posso também construir curvas de distribuição com o que se passa dentro de cada turma e disponibilizá-las aos professores. Alunos e professores vão usando essa informação, produzida diariamente, para irem ajustando o seu trabalho no sentido de obterem os melhores resultados possíveis. Neste processo de obtenção de dados provenientes da resolução de exercícios, também se produz informação para os pais e encarregados de educação dos alunos. O Matematik está, aliás, vocacionado para alunos, professores e, ainda, encarregados de educação. Para além de tudo isto, e tendo em conta que um processo de avaliação do trabalho de cada um só está completo quando se sabe qual a sua posição na distribuição geral das performances, o Matematik permite ainda comparar os resultados obtidos por cada aluno com os resultados das distribuições dos alunos da sua turma, da sua escola e de todas as escolas do país. Cada aluno, mediante o uso regular do Matematik, poderá saber, independentemente dos diferentes critérios de atribuição de notas a que possa estar sujeito na sua escola, qual é o seu lugar no mapa escolar português: dentro da respetiva turma, na própria escola e, ainda, no país. Por exemplo, se um aluno quiser seguir medicina e a meio do ano letivo estiver com 18 valores a matemática, pode ou não ficar descansado? Se, por mera hipótese, numa turma de 25 alunos existirem 24 com 19 valores, então o que tem 18 valores é o pior de todos… Uma vez que o aluno vai competir com todos os alunos do país por um lugar no curso de medicina, o que representa o seu 18 na distribuição das notas dos alunos de todo o país? Através do uso regular do Matematik, o aluno fica a saber qual a sua posição na distribuição dos alunos de todo o país. Pode, por exemplo, ficar a saber que ocupa o percentil 70 na distribuição de todos os alunos e que, por essa razão, o seu 18 ainda não é sinónimo de entrada garantida no curso pretendido. O que fazer com esta informação? Rever o modo como se está a trabalhar e voltar a medir, tendo sempre em conta a posição individual na distribuição geral de alunos. Também os professores ficam a saber, mediante o recurso a testes de hipóteses, como se comparam as suas turmas com o todo. O Matematik mostra aos professores, com o rigor da estatística, onde as suas turmas estão bem e onde precisam de mais apoio para acompanhar os resultados das outras turmas.
Quando se apercebem [professores] de que, com o Matematik, têm acesso a informações que não existem em mais lado nenhum e que só se podem obter com recurso às novas tecnologias de informação, aí são eles que proativamente pedem para falar connosco.
Quantas pessoas formam a equipa do Matematik?
Duas. Eu e o meu sócio, que é professor de matemática.
Como é que o Matematik se faz com duas pessoas apenas?
O Matematik faz-se com duas pessoas e muito trabalho, a tempo inteiro. Numa primeira fase (que durou cerca de três meses), preocupámo-nos com o planeamento, a identificação do tipo de testes e os dados estatísticos a incluir no site, a informação a dar aos alunos, professores e pais, a forma como poderão os professores usufruir dessa informação dentro da sala de aula (aliás, neste momento, já temos escolas que recorrem ao Matematik para passar os trabalhos de casa, para depois conseguirem medir o modo como os alunos estão a aprender as matérias), a estruturação da plataforma, as coisas mais comezinhas, como o tipo de letra, as cores (que não podem ser muito fortes, sob pena de os alunos se cansarem), etc. Depois, focámo-nos no trabalho informático. Fomos à procura de quem nos fizesse este software e, tanto procurámos, que encontrámos uma equipa extraordinária de informáticos em Guimarães, a Primariu. Ficaram surpreendidos com o facto de os termos descoberto, dado que a maior parte dos seus clientes vem do estrangeiro. Ora, na minha procura da equipa ideal para construir o software, logo que tropecei no site destes senhores, pensei: «Vou a Guimarães.» E fui. Apresentei-lhes o projeto e tive imediatamente a promessa de que me apresentariam uma proposta, que vingou. Seguiu-se a esta fase a seleção dos exercícios de matemática a incluir no Matematik, de acordo com os programas nacionais. Uma vez feita esta seleção, os exercícios são regularmente elaborados por forma a serem incluídos no Matematik e, muitos deles, são inclusive alvo de vídeo com resolução detalhada. Todos os exercícios têm uma resposta escrita, a qual é apresentada ao aluno sempre que o mesmo termina a resolução de um exercício. Mas como essa resposta escrita é formulada em linguagem matemática, em jeito de complemento, o aluno tem ainda a possibilidade de aceder a uma explicação mais pormenorizada e gráfica através dos vídeos.
Nesse caso, é como se fosse o professor na própria sala de aula…
Quase… se bem que, atenção, não há nada que substitua o professor. Nada! Tem de haver diálogo permanente. Por melhor que seja o Matematik (e é nesse sentido que estamos a trabalhar), não substitui o professor.
– Com o Matematik, as escolas podem comparar, a todo o momento, o desempenho dos seus alunos com todos os restantes utilizadores da plataforma.
Qual foi a aceitação do Matematik por parte das escolas que já teve oportunidade de contactar?
A aceitação do Matematik tem sido muito boa. No momento inicial, quando as escolas têm um primeiro contacto com o Matematik, pensam que se trata apenas de uma ferramenta complementar ao estudo. Depois, quando conhecem a fundo o projeto (e o meu empenho é nesse sentido), apercebem-se de que é muito mais do que isso, e que pode ser um aliado fundamental dos professores no combate ao insucesso dos alunos. Quando se apercebem de que, com o Matematik, têm acesso a informações que não existem em mais lado nenhum e que só se podem obter com recurso às novas tecnologias de informação, aí são eles que proativamente pedem para falar connosco. Vamos então às escolas, mostramos em profundidade o Matematik e os professores ficam entusiasmadíssimos. Entendem que, pela primeira vez, têm a possibilidade de dar a matéria e gerir a par e passo o desempenho dos alunos no processo de aprendizagem e, em função da informação gerada, atuar em conformidade. Ainda assim, há uma educação a dar, há uma evangelização a fazer… É que há pessoas pouco familiarizadas com as novas tecnologias…
Através do Matematik, os alunos podem então submeter-se a um diagnóstico do estado das suas competências de matemática, o que pode fazer toda a diferença no ensino da disciplina. Em que é que consiste esse diagnóstico? Como é efetivamente avaliado o nível do aluno?
Vou dar como exemplo o caso do 12.º ano de escolaridade. No Matematik, o programa de matemática do 12.º ano está dividido em 8 capítulos e cada capítulo está dividido em vários subcapítulos. No total, existem 32 subcapítulos que vão dar 32 parâmetros de avaliação. Não basta dizer ao aluno se ele está bem ou mal, em termos genéricos. Isso não o informa devidamente nem o orienta na resolução do problema. A criação dos subcapítulos tem precisamente o propósito de especificar ao aluno o seu desempenho em cada matéria, dizer-lhe onde é necessário aprofundar conhecimentos ou se pode passar ao nível seguinte. Sempre que o aluno faz exercícios, sabe imediatamente (essa informação é disponibilizada online) onde fica posicionado na curva de distribuição da sua turma, da sua escola e do país. Paralelamente, todas as semanas, pelas 10h de sábado, os alunos recebem um relatório em pdf, mais detalhado, que indica qual o seu percentil nas distribuições referidas e que contém recomendações personalizadas de estudo, conformes às necessidades. É claro que àqueles que têm bons desempenhos damos os parabéns, sempre numa ótica de incentivo para que continuem a trabalhar com todo o empenho.
Também os encarregados de educação têm um papel no Matematik, podendo acompanhar a evolução dos encarregandos na aprendizagem da disciplina. Não há aqui propensão para conflitos familiares? O pai que acede ao relatório do filho que, por sua vez, não quer que o pai aceda ao seu relatório…
Os pais podem receber relatórios abreviados, por SMS. Semanalmente, aos sábados, juntamente com o relatório detalhado em pdf, é enviado um relatório abreviado para dois números de telemóvel (no máximo). É o filho que inscreve, na sua área reservada, os números de telemóvel para onde vão ser enviados os relatórios abreviados. É ele que decide, portanto, se os seus pais vão ou não receber o SMS. O filho tem o seu login e a sua password de acesso ao Matematik e, uma vez no site, gere a sua área pessoal: pode ter a sua fotografia, alterar os seus dados, pode indicar a escola em que se encontra a estudar, pode até introduzir o seu nickname. Para além disso, nessa área pessoal, pode inscrever até dois números de telemóvel para os quais vai ser enviado o tal relatório abreviado. Normalmente, os filhos indicam os números dos seus pais. Ora isto pode ter um potencial de conflito, é certo, mas tudo depende do contexto familiar e da forma como os encarregados de educação usam a informação gerada. Seja qual for o desempenho do aluno, os pais podem sempre usar a informação para o incentivar e não para o punir. Se o pai vê que o filho tem sistematicamente um determinado padrão de desempenho e que, a páginas tantas, esse padrão se alterou substancialmente na matéria x ou y, pode, graças a essa informação, atuar enquanto é tempo. Pode ir falar com o professor para saber se há algo que não está a correr bem dentro da escola, pode dispor-se a estudar em conjunto com o filho, pode tentar arranjar um explicador… Pode fazer muitas coisas mas, e isto é tão importante como a ação, pode agir a tempo e horas para que o problema se resolva antes de tomar proporções graves! O Matematik é, com efeito, uma fábrica de informação. Uma informação menos positiva pode sempre ser um ponto de partida para o diálogo. Não se podem resolver problemas sem um diagnóstico prévio. E o Matematik faz esse diagnóstico. Feito o diagnóstico, compete aos pais e aos alunos traçar as melhores estratégias de ação, sendo que há um tempo ideal para que as mesmas produzam bons resultados.
Atenção: o Matematik é de tal forma um projeto inovador que tem de ser explicado às escolas.
Qual o balanço deste primeiro trimestre de Matematik?
O balanço é já muito positivo. As escolas começam a interiorizar que o Matematik é muito mais que uma mera ferramenta de estudo a ser usada pelos alunos. Dos professores dos quais já obtive feedback sobre o Matematik, com efeito, tenho tido repetidamente a confirmação de que este projeto leva a uma grande mudança na forma de planear o trabalho no ensino da matemática, mas que os resultados obtidos justificam plenamente essa mudança. Dos alunos, tenho notado também uma franca recetividade ao projeto e um grande entusiasmo. Dos alunos que nos têm contactado sabemos que, em média, subiram já 2 valores em relação à média que tinham antes de começar a usar regularmente o Matematik. Alunos de 13/14 valores estão neste momento a tirar 15/16 valores. Só por isto já valeu a pena! De notar, também, que já fomos contactados por pais que, por estarem inseridos em contextos socioeconómicos difíceis, nos agradecem, já que veem no Matematik uma grande ajuda ao trabalho dos filhos e uma alternativa às explicações que não podem pagar. Mas quero trabalhar sempre com mais escolas, claro. Atenção: o Matematik é de tal forma um projeto inovador que tem de ser explicado às escolas. E esse trabalho está a ser feito. É claro que um bom professor, um bom livro, lápis e papel são o que basta para ter sucesso, mas se a isso juntarmos informação de qualidade, no tempo certo, então podemos potenciar o sucesso de muito mais alunos. A revolução está na informação atempada e não na tecnologia pela tecnologia. São as curvas estatísticas que esta plataforma produz que dão a professores, alunos e encarregados de educação a informação de que cada um precisa, no tempo devido. Depois, com essa informação, cada um terá que cumprir o seu papel. É isto que um bom livro, infelizmente, nunca vai conseguir fazer.
Qual o modelo de negócio?
O Matematik está acessível à generalidade dos alunos mediante um pagamento mensal de 10 euros. Para os alunos de escolas com protocolo, este valor baixa significativamente. Para as instituições de solidariedade social, o Matematik está disponível gratuitamente.
Quais os objetivos de crescimento do Matematik? Os restantes países da lusofonia estão na calha?
Os países da lusofonia estão na calha, sim senhora. Neste momento, temos no Matematik o 12.º ano. Vamos começar entretanto a trabalhar o 11.º ano e depois o 10.º ano. Vamos ficar só com o [ensino] secundário, porque entendemos que esta componente estatística que faz com que o Matematik seja inovador não é encarada como fundamental antes do secundário. Estamos, também, a analisar a possibilidade de o Matematik vir a aplicar-se ao ensino superior. Adicionalmente, vamos entrar nos países da lusofonia, claro. E isso será certamente um grande desafio, porque apesar de a matemática ser uma linguagem universal, não é ensinada da mesma maneira e nos mesmos timings em todo o mundo. É necessário olhar para os programas de cada país e fazer as devidas adaptações. Quando tivermos fechado o ensino secundário português, caminharemos então para os restantes países da lusofonia. Já estamos a criar sinergias em Moçambique, seguir-se-á Cabo Verde e por aí adiante. Havemos de chegar a Timor! O Brasil será a nossa última aposta, porque já tem uma oferta muito diversificada. Mas o que pretendemos fazer para cada um dos diferentes países é um “fato à medida”.
Tratando-se de um projeto de inovação mundial, acredita que o Matematik pode colocar os alunos portugueses no mapa dos melhores alunos de matemática do Mundo?
Não tenho dúvidas nenhumas de que o fará! Os portugueses não têm problema nenhum com a matemática. Tendemos é a insistir com um modelo que, em matemática, não favorece o sucesso. Isso faz com que muitos alunos talentosos e inteligentes, por circunstâncias acessórias, acabem por ter dificuldade em progredir. Assim que começam a progredir, ganham um ânimo e um entusiasmo que os faz entregarem-se à matéria com muito mais emprenho. Isso é notório. No limite, o que gostaria era que os alunos portugueses passassem para os lugares de topo nas provas internacionais de matemática e que mostrassem ao mundo que somos tão capazes como os melhores. Para além do desempenho puramente escolar, gostaria muito que os alunos começassem a incorporar a matemática nas suas decisões diárias enquanto cidadãos: na escola, nos momentos em família e nos momentos de lazer. Estou convicto de que Portugal continuará a ter enormes dificuldades económicas se os portugueses, como um todo, não alcançarem conhecimentos de matemática consideravelmente mais satisfatórios, de modo a tornarem-se mais eficientes nas suas decisões de trabalho (em qualquer ramo de atividade, em qualquer lugar da hierarquia, seja a desenvolver trabalho manual ou intelectual). A universidade contribui, sem qualquer dúvida, para o desenvolvimento de um país, mas o que é efetivamente fundamental para termos empresas exemplares em termos de eficiência, desde o porteiro ao presidente do conselho de administração, é termos um liceu de excelência. A maior parte das pessoas não tem necessariamente de sair das universidades… Se soubéssemos usar bem a matemática, então… talvez não fosse preciso estar tantas horas no local de trabalho (como é tão frequente em Portugal). Não é por isso que somos mais produtivos nem mais eficientes.
Para levar este projeto por diante, consultou possivelmente distribuições e curvas estatísticas indicadoras das taxas de (in)sucesso da matemática no nosso país. Em que estado concreto estava a matemática quando iniciou o seu projeto?
Confirmei, infelizmente, que o desempenho da matemática é mediano. Percebe-se que há a preocupação de produzir bons resultados muito depressa, o que faz com que os programas tenham vindo a sofrer ao longo dos anos alguns aligeiramentos que só contribuíram para reduzir a qualidade dos resultados. Ora quando os alunos chegam às universidades, apercebem-se de que afinal não são assim tão bons. Aliás são os próprios professores universitários que dão esse testemunho: «Cada vez os alunos chegam aqui com médias mais elevadas, mas com lacunas mais difíceis de resolver». O estado geral não é nada de que nos devamos orgulhar. Contudo, continuamos a ter franjas de ótimos alunos que são absorvidos pelas universidades lá fora. E, atenção, os alunos portugueses não devem nada aos outros. Nada! A propósito deste tema, volto ao meu professor do MBA, Tawfik Jelassi, professor de strategies for e-business, com uma história muito interessante. Um dia, no intervalo de uma das nossas aulas, estávamos à conversa com o professor Jelassi sobre os rankings das diferentes escolas de gestão e do tipo/qualidade do ensino nelas ministrado. Falávamos da nossa experiência na Universidade Católica [Portuguesa], tentando imaginar uma comparação com instituições com reputações de topo como o Insead ou Harvard… E como este professor dá aulas em Portugal, nos EUA e em França, perguntámos-lhe o que acha da generalidade dos alunos das várias universidades que ele conhece. E ele respondeu assim: «Os alunos são iguais. A qualidade da matéria-prima é igual. O meu critério para dar um 18 aqui, em Paris ou nos EUA é exatamente o mesmo. E dou tantos aqui, como nas restantes universidades». E nós fomos mais longe e perguntámos-lhe porque é que esse bom desempenho – que nos coloca lado a lado com os restantes alunos de topo – não se repercute no desenvolvimento económico do nosso país. Ampliando esta ideia, perguntámos quando é que a Europa iria deixar de estar numa posição subalterna face aos EUA. O professor respondeu: «Nunca! Reparem: todos os anos sou convidado para reuniões e convívios com antigos alunos. Quando estou nesses eventos nos EUA, nas conversas informais com grupos de antigos alunos, pergunto-lhes sempre o que fizeram depois dos estudos. Nos EUA, 95% dos alunos dizem que criaram o seu próprio negócio e todos os outros se interessam e questionam como as coisas estão a correr. Em Paris, nos mesmos encontros e nos mesmos ambientes de convívio informal, coloco a mesma questão. Em cada grupo de antigos alunos há um que me diz que está numa consultora, outro que está num banco e outro ainda numa multinacional… Apenas 5% deles iniciaram o seu próprio negócio. E a estes, os restantes perguntam se se meteram num negócio por não terem conseguido arranjar emprego…»
Estamos a falar de empreendedorismo…
Ou da falta dele! Do facto de as pessoas não estarem dispostas a correr riscos e do seu pudor em falhar. Ser empreendedor é ter a fibra para avançar, mesmo em situações adversas. É ir, cair, levantar, ir outra vez, voltar a cair e levantar-se outra vez, e fazer isto dezenas ou centenas de vezes, até finalmente conseguir ter sucesso. E cada vez que se reinicia nova tentativa, fazê-lo sempre com o mesmo nível de entrega e empenho, e sem qualquer pudor por ter falhado. Ultrapassadas estas dificuldades, haverá um dia em que cada um encontra o seu caminho. E esse caminho não só resolve o problema individual de desemprego, como promove a criação de emprego para outros. Infelizmente, em Portugal, a generalidade das pessoas não tem capacidade para gerar o seu próprio emprego. Os motivos são vários, sendo que a debilidade geral nos conhecimentos de matemática a nível de liceu estarão, certamente, entre esses motivos. No meu caso concreto, o que eu sempre quis foi ser um bocadinho dono do meu destino, abrir uma empresa, tomar decisões por mim e empregar pessoas. E a matemática está a permitir isso! Se as pessoas estivessem convictas de ter capacidade para criar o seu próprio emprego, não viveriam tão amarguradas em determinados ambientes de trabalho…
Fomos atrás da quantificação, pura e simples, sacrificando a qualidade com o único propósito de apresentar quantidade. Isto foi o que aconteceu com o ensino em geral e com a matemática em particular.
Qual é a sua visão do ensino da matemática em Portugal?
Eu gostava que se olhasse para o ensino da matemática de outra maneira. Apesar de o Matematik permitir recolher dados, tratá-los e transformá-los em informação útil, isso não basta. Não podemos, nem devemos, deificar a quantificação da matemática. O que quero dizer com isto? Até há bem poucos anos, a escolaridade em Portugal estava reduzida aos mínimos dos mínimos. Rapidamente percebemos que éramos olhados por países parceiros como um país de pessoas com pouca cultura e fraca preparação. Na tentativa de contornar essa situação tão rapidamente quanto possível, baixámos o standard e aligeirámos os níveis de exigência. Criámos a ilusão de que os alunos foram chegando mais longe, mas isso aconteceu à custa de menos exigência. Fomos atrás da quantificação, pura e simples, sacrificando a qualidade com o único propósito de apresentar quantidade. Isto foi o que aconteceu com o ensino em geral e com a matemática em particular. Espero que o Matematik possa ajudar a contrariar esta tendência e a transformar a matemática numa disciplina de inclusão, com níveis de excelência, e não, como hoje acontece, numa disciplina de exclusão.
Existe algum país onde considere que há um modelo exemplar do ensino da disciplina?
Não sei se existe efetivamente algum país com um modelo exemplar de ensino da matemática. A China está no topo. Singapura também tem resultados muito interessantes. Nos testes PISA de 2012, numa lista de 65 países, só há asiáticos com resultados de percentil 90 para cima. Portugal ocupa a 31.ª posição, com percentil 53 (estamos sensivelmente a meio da tabela). Se atentarmos apenas para os resultados dos países europeus (36 países), então nessa distribuição caímos para o percentil 46. É um resultado que nos obriga a refletir. Os EUA começam a ter dificuldades sérias na matemática (na distribuição dos 65 países, ocupam a 36.ª posição, com percentil 45), mas esses têm uma capacidade fantástica para atrair inteligência de fora. Aliás, nos EUA, está hoje em cima da mesa um debate sério sobre a melhor forma de ensinar a matemática…
Para céticos (mas curiosos), que literatura recomenda para ajudar a descomplicar a matemática? Há pelo menos um livro que sei que considera delicioso…
Esse livro chama-se Zero. A Biografia de uma Ideia Perigosa [editado pela Gradiva], da autoria de Charles Seife, um jovem de 26 anos. É, simplesmente, fascinante. Mesmo para quem não gosta nada de matemática. Mostra como apareceu o algarismo zero e como o mesmo constituiu uma autêntica revolução na história da humanidade: pela primeira vez, o homem sentiu necessidade de criar um símbolo (o zero) para representar coisa nenhuma. É um salto mental absolutamente notável. Se pensarmos que todos os números que existem são ou positivos ou negativos e há um, e apenas um, que não é nem positivo nem negativo, começamos a perceber como o zero é fascinante. Além disso, o conjunto dos números negativos é infinito, o que significa que zero é maior do que infinitos números. Se houvesse uma abelha-mestra entre os números, seria certamente o zero. No limite, este livro ajuda-nos a perceber que nada existe sem números. Às vezes, estão é escondidos!
Que nota teve a matemática no seu exame de entrada na universidade? Lembra-se?
Tive 99% no exame de aferição (porque não tive tempo para terminar o exame!).
Caso contrário, teria tido 100%?
Acho que sim [gargalhada]!
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