Há 112 anos, no dia 13 de janeiro de 1906, abriam as portas daquela que é hoje reconhecida como uma das mais bonitas livrarias do mundo, a Lello. Corriam curiosos – entre a nata cultural e da academia portuense à época – ao número 144 da Rua das Carmelitas, na baixa do Porto, bem ao lado da vizinha fulgurante Torre dos Clérigos. Guerra Junqueiro, Abel Botelho ou Júlio Brandão foram alguns dos ilustres escritores que compareceram à esperada inauguração.
No próprio evento, Abel Botelho escreveria sem demoras no livro de ouro da livraria que aquele espaço sinalizava «um grande ato de benemerência». Estaria longe de imaginar, porém, que o reconhecimento dado à Lello desinstalaria fronteiras e daria inspiração argumentativa, até, a J.K.Rowlling, autora de Harry Potter, na criação das aventuras de Hogwarts, que poderão ter começado a ganhar consistência aquando da estadia da autora na cidade do Porto.
São muitos os olhares estrangeiros que entram pela Lello. De acordo com números fornecidos pela livraria, visitaram em 2017 a Lello 1 235 472 pessoas, mais de 17% face a 2016. Da totalidade de visitantes, mais de 25% são espanhóis, mais de 18% portugueses e, entre os restantes, encontram-se curiosos provenientes de França, Brasil, EUA, Alemanha, Itália, Reino Unido, Polónia, Coreia do Sul, Países Baixos, Japão, China.
O estilo neogótico, o arco abatido na fachada imponente, a janela tripla, duas figuras simbolizando a Arte e a Ciência fazem as delícias de quem vê de fora. Para quem entra, o olhar fica imediatamente debruçado sobre a famigerada escadaria, a luz difusa a fazer lembrar um cenário meio mágico, as estantes a alongar o pé direito e o vitral no teto, no qual é possível ler: «Decus in Labore» (Dignidade no Trabalho).
Ao longo dos 112 anos, a Lello sofreu algumas obras de manutenção e restauro, que possibilitaram a abertura ao público de espaços até então reservados, nomeadamente para acolher uma oficina de encadernação e caligrafia e um compartimento vocacionado para o livro raro e de luxo.
Esta é a livraria que recebeu a classificação de património nacional. Excedeu-se ao século XX e continua a contar o pulsar do ser português.
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