Tinha estado, há já uns bons anos, no prestigiado Van Gogh Museum, em Amesterdão, e dessa experiência fiquei sempre com uma das frases do pintor latentes na memória: «Sonho em pintar. Logo, pinto os meus sonhos». É, pois, o pensamento que vemos, logo à entrada, na exposição Meet Vincent Van Gogh, patente em Belém, fruto de uma parceria entre, precisamente, o Van Gogh Museum e a UAU, promotora de eventos. Por contraponto com Amesterdão, aqui entramos na obra do pintor holandês, uma das mais influentes figuras da arte ocidental, para a conhecer de uma forma original.
Uma viagem única e multissensorial pelos momentos mais relevantes da vida do pintor é-nos proporcionada em cada compartimento da exposição. Somos levados a contracenar com os ambientes reais do seu dia a dia; podemos entrar no seu quarto recriado à escala natural; sentamo-nos numa mesa de trabalho para, ao microscópio, detalharmos todos os seus materiais e ferramentas de pintura; somos postos em contacto com uma rede de desenho em perspetiva para a partir daí interiorizarmos a técnica de Van Gogh. Vantagem para quem procurar conhecer em maior detalhe cada aspeto da vida e da obra do pintor é o facto de serem disponibilizados áudio-guias, gratuitos, para adultos e crianças.
Em todos os percursos encontramo-nos sempre rodeados de uma macha de painéis e conteúdos tecnológicos, que nos fazem sentir dentro da própria obra e, se me permitem, dentro do próprio pensamento do pintor. Damos por nós submergidos no universo de Van Gogh. De repente, somos Van Gogh. Percebemos, porventura, que nem só de flores se fazem os seus quadros. Traços, naturezas mortas, rostos, autorretratos, edifícios, cores fortíssimas, dramáticas e vibrantes, outras menos fortes, estações do ano, estados de alma, personagens ganham, subitamente, forma e revelam as fundações da arte moderna.
Em cada momento da narrativa da exposição, vemos materializada a expressividade e a força do artista que foi vendedor de arte enquanto jovem, entrou em depressão, voltou-se para a religião e enfrentou problemas de saúde e solidão até começar a pintar, em 1881. O suicídio que lhe acrescentou o golpe fatal é o momento de viragem a partir do qual Van Gogh passa, finalmente, a ser reconhecido. O artista que pintou os sonhos nem sempre sonhou em pintar.
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