Leio em voz alta desde que aprendi a ler. Mais do que uma recomendação, foi um incentivo inspirador da minha professora primária, mulher rara, que nos lia em voz alta, na sala de aula, cada nova história que surgia a familiarizar-nos com a leitura, os autores e as palavras.

Em casa, com o treino das aulas, fechava-me no quarto e ensaiava leituras em voz alta, feliz por descobrir cada palavra com o ouvido. Já mais crescida, percebia na reação de colegas e professores uma atenção especial sempre que me pediam para ler em voz alta. Fui compreendendo, com o tempo, o poder do tom da voz na mobilização de quem nos ouve. Quem nos segue, lá está, também com o ouvido.

A voz é, afinal, esse instrumento tradutor da força das palavras, da sua intensidade, do seu tom. É ela o comando do que se quer dizer mais alto ou mais baixo, com irreverência ou discrição, ponderação ou solenidade. Na leitura em voz alta, que dá tema à efeméride de hoje, somos testemunhas dessa plasticidade que a voz imprime às palavras, influenciando determinantemente a forma como comunicamos.

Para além dessa comunhão com as palavras que lemos e com quem nos ouve, ler em voz alta, vem referido em vários estudos, promove o desenvolvimento, desde logo, das competências de leitura, contribui para uma maior capacidade de interpretação da narrativa e dos personagens, enriquece o vocabulário e a verbalização de ideias e desenvolve o raciocínio, a imaginação e a criatividade. A leitura em voz alta estabelece, ainda, laços de afetividade, sendo importante alavanca do trabalho em equipa e das dinâmicas de grupo.

Neste Dia Mundial da Leitura em Voz Alta, leio um poema de José Luís Peixoto, do seu Regresso a Casa, livro escrito pelo autor na primeira experiência de isolamento social, em 2020. E que continua fatalmente atual.

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