Há exatamente dez anos, encontrava-me em São Paulo, no Museu da Língua Portuguesa, na Estação da Luz, porventura uma das mais bonitas homenagens a essa pátria que é a língua, como nos lembra Pessoa.

A visita celebrava uma visão para a língua portuguesa enquanto território de todos os países de língua portuguesa e também de todas as comunidades expressas em português e espalhadas pelo mundo. A ênfase estava posta na antiguidade e na universalidade da língua, mas também na identidade e nas valências e nos valores que a tornam diferente face às restantes. Se a memória não me falha, uma impressão nítida da evolução da língua para a linguagem era promovida com a Árvore de Palavras, uma instalação criada pelo arquiteto e designer Rafic Farah com palavras em latim, grego, tupi e outros idiomas na raiz, palavras atuais no tronco e, na copa, objetos nomeados por essas palavras. Numa sala totalmente vazia, parávamos para ouvir um poema de Carlos Drummond de Andrade contado pela voz inconfundível da atriz Fernanda Montenegro. Lembro-me de me ter perdido aí, de assombro. Em destaque, encontrava-se, ainda, uma galeria monumental com mais de 100 metros exibindo a língua no quotidiano e a forma como o alfabeto – o canadiano Marshall McLuhan dizia-nos isso – é a principal revolução tecnológica de sempre. Talvez andemos iludidos a pensar que as tecnologias de hoje o tenham ultrapassado.

A minha memória desse lugar cimeiro que é o Museu da Língua Portuguesa paralisou em 2015, com o incêndio. Curiosamente, neste Dia Mundial da Língua Portuguesa que hoje se inaugura, foi a primeira reminiscência que me chegou à cabeça. Quis de imediato saber quando reabre o museu. Porque me imagino lá. De novo. E até já ouço o tom de voz de Fernanda Montenegro. Porque «da minha língua vê-se o mar». Não é Vergílio?

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