A cultura eletrónica que nos cerca todos os dias e que tanto nos provoca assombro como se torna extenuante, é hoje o tema principal aqui. Trago um dos seus teóricos fundamentais –Marshall McLuhan – e cuja visão nos dá argumentos interessantes e, até, curiosos, para melhor compreendermos a omnipresença da linguagem eletrónica e o seu impacto na forma como dialogamos, interagimos e internalizamos o mundo.

O canadiano Marshall McLuhan (1911-1980), cujas teorias em torno da comunicação continuam a confundir-se com a atualidade, é o autor do conceito Galáxia de Gutenberg. Dá-se um importante ponto de viragem na vida de McLuhan quando, em 1930, incrédulo com a falta de entusiasmo demonstrada pelos seus alunos relativamente a autores incontornáveis, como Shakespeare, inicia os seus estudos sobre os media, a comunicação, a cultura dominante, a tecnologia. Na Universidade de Toronto, consolida o seu prestígio como investigador destas áreas e na década de 1970 é convidado para consultor do Vaticano como membro da Comissão Pontifícia das Comunicações Sociais (no âmbito da qual acompanha os 2 primeiros anos do Pontificado do Papa João Paulo II).

Na apologia de McLuhan, a história entre o homem e os diversos media divide-se em 3 grandes culturas (estruturas percetivas diferenciadas): 1) cultura acústica ou oral – própria das sociedades não alfabetizadas, com predominância da palavra oral como forma de comunicar. Desenvolve a imaginação e a criatividade, quer de quem fala, quer de quem ouve. Há uma supremacia do ouvido (coloca a mensagem dentro). Ouvir é acreditar. 2) cultura tipográfica ou visual/Galáxia de Gutenberg – remete para o alfabeto, a mais importante invenção tecnológica de sempre, com maior impacto na forma de percecionar o real. Contribui para que o homem deixe a cultura acústica e penetre no da visão (coloca a mensagem em cima ou à frente). Conduziu ao raciocínio linear, à sequência, à lógica, à matemática, negligenciando a memória. Preponderância da escrita e da leitura, com epicentro na vista. Pressupõe a aceitação de um mesmo código, de uma mesma leitura da realidade. O livro impresso concorre para o advento do individualismo e as bibliotecas deixam de ser proprietárias exclusivas dos livros, surgindo novos públicos. Surgem as figuras do intelectual, do analista, do opinion maker. 3) cultura eletrónica – nasce em 1844 com a invenção do telégrafo (que separa a mensagem do mensageiro) e baseia-se na instantaneidade, na velocidade da difusão, na receção em massa. Apela diretamente a todos os sentidos humanos desencadeando a apreensão pluridimensional da realidade. Integração sensorial que permite recuperar a expressividade típica da comunicação acústica. Na era eletrónica, olha-se como se ouve.

De acordo com McLuhan, o meio, comummente entendido como canal inócuo de passagem/transmissão de mensagens ou alicerce meramente material de transmissão de conteúdos de comunicação, consiste numa peça fundamental e determinante do processo de comunicação. O meio de transmissão da mensagem está na génese dos diversos mecanismos de apreensão e perceção do real. Todos os media modelam o modo de percecionar o real, mas a diferentes níveis.

Há uma diferença entre meios quentes (hot media) e meios frios (cold media): os primeiros (ex.: cinema, rádio, fotografia, livro, imprensa) centram-se num dos sentidos humanos e os segundos (ex.: TV, telefone, cartoon, conversa face a face, Internet) exigem uma participação mais atenta do recetor, envolvem todos os sentidos e pressupõem uma maior interação entre emissor e recetor. Remetem para a figura de um recetor que também é emissor, porque ele próprio tem a capacidade de produzir conteúdos e difundi-los, gerando novos recetores.

A era eletrónica, iniciada com o telégrafo, deixou para trás o protagonismo do livro, o qual não é compatível com a instantaneidade, a velocidade e a mudança acelerada do ato de surfar, representativo da tentativa de equilíbrio num mundo em constante mudança, com tanta informação e tantas referências, que passam a não-referências.

Vivemos numa aldeia global, não pelo facto de podermos contactar qualquer pessoa em qualquer parte do mundo, mas porque as informações e os indivíduos cercam os indivíduos ao mesmo tempo e num mesmo espaço simbólico, o dos media eletrónicos. E são vários e novos os paradigmas comunicacionais introduzidos pela Internet:

audiência  utilizador

media – conteúdos

monomedia – multimédia

periodicidade – tempo real

escassez – abundância

distribuição – acesso

unidirecionalidade – interatividade

linear  hipertexto

informação  conhecimento

As Ciências da Comunicação oferecem-nos um património de conhecimentos fortíssimo para entendermos a comunicação como relação, apoiando-se nas teorias da comunicação para fazer a leitura, interpretar e desmistificar os fenómenos de produção, difusão, receção e efeito dos conteúdos comunicativos e dos sistemas simbólicos a eles associados.

Nascida nos EUA, em 1927, a Mass Communication Research tem vindo ao longo do tempo a integrar o contributo de diferentes disciplinas. Verifica-se uma tendência para a convergência entre as duas principais tradições: americana, mais empírica e focalizada nos efeitos cognitivos implícitos ao sistema dos media; e europeia, mais teórica e voltada para a relação entre os novos media e o sistema social.

 

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