Do universo norte-americano chegou-nos há uns 4 anos o livro O Silêncio, pela mão de Don DeLillo, escritor nova iorquino premiado, com a versatilidade dos vários estilos e em Portugal publicado pela Relógio d’Água. Dessa mão, dizia, saiu-lhe este argumento poucas semanas antes, é preciso dizê-lo, do desabrochar da pandemia que a todos nos paralisou.

Cinco personagens encontram-se num apartamento de Nova Iorque, no decurso de uma catástrofe. Uma professora de Física reformada e o seu marido, um ex-aluno e um segundo casal acabado de chegar de um voo traumático de Paris reúnem-se para jantar, num domingo de Super Bowl.

O que torna ancorada a conversa entre os cinco são um telescópio no Chile, marcas de whiskey e Einstein, no seu Manuscrito de 1912. Na filigrana destes súbitos temas, decorre um acontecimento absolutamente determinante do futuro, com impacto imediato sobre as conexões digitais que sustentam o mundo como atualmente o conhecemos. Perante uma espécie de «colapso total de todos os sistemas», o que fazer? Como ser? E o quê? «O que acontece às pessoas que vivem dentro dos telemóveis?», lemos sob a forma de pergunta.

Eis senão quando a conversa ganha fôlego filosófico e é atirada para um território de reflexão do ser humano. Aliás, dos seres humanos (no plural, como também o conhecemos hoje). «As pessoas têm de repetir a si próprias que ainda estão vivas». Em bom rigor, o que têm de repetir – em mantra – é que (ainda) são humanas. É o mundo a que chegámos.

Com uma voz irreverente, fora dos cânones, o que Don DeLillo faz neste livro é colocar em perspetiva essa caixa de ressonância de ruído e entropia em que passámos a viver sem assombro e sem curiosidade. E a propósito da qual ansiaríamos, se disso tivéssemos consciência, de um pouco de silêncio para nos ouvirmos (afinal) enquanto pessoas.

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