Por ocasião dos 50 anos da Universidade Católica Portuguesa (UCP), um grupo de docentes, alunos e colaboradores foi no passado dia 26 de outubro recebido pelo Santo Padre, em Roma. Terá sido, certamente, uma experiência inolvidável para cada um, diria eu, dos privilegiados que integrou a Audiência.
Nesse encontro com o Papa Francisco, foi assinalada a natureza católica da instituição de ensino superior que o universo do catolicismo português esperava ver erguida desde finais do século XIX, com vista a aliar as dimensões da fé e da cultura que o liberalismo se encarregou de separar. A criação da UCP viria apenas a materializar-se em 1967, mas desde então foram já muitos os ramos do saber que se consolidaram, dando origem aos diversos polos e faculdades fundados e que a crescer em número de alunos e em qualidade de ensino têm vindo a contar a história de como se constrói um legado de sabedoria e conhecimento, mas também de valores e preparação para a cidadania responsável.
Com a legitimidade de aluna da UCP, que fui em dois momentos diferentes no período pré-Bolonha, olho para a UCP como um lugar que faz a extensão da minha casa, da minha família. E que, ao comemorar 50 anos, confirma o orgulho que sempre tive de ali pertencer. Ninguém sai da faculdade igual ao dia em que entrou, se tiver ousado conciliar com a atividade curricular uma atitude de profunda inquietação e curiosidade, vontade de crescer intelectualmente, necessidade de se valorizar como ser humano, urgência de se fazer melhor pessoa.
Estou profundamente convicta de que serão estes os ingredientes para responder à «necessária complementaridade entre ciência e sabedoria, entre meios técnicos e fins verdadeiramente humanos e humanizadores; e também para a necessidade de superar a deriva tecnocrática na qual tudo é feito confluir para alcançar resultados rápidos e utilizáveis em proveito mais do ter de alguns que do bem de todos», para citar D. Manuel Clemente, Cardeal-Patriarca de Lisboa e Magno Chanceler da UCP no seu discurso ao Papa Francisco.
É também com este foco na pessoa e no seu valor, no qual têm lugar os pressupostos da alteridade, da solidariedade, da compaixão, que se lê no discurso da Professora Isabel Capeloa Gil, Reitora da UCP, o anúncio ao Santo Padre da criação do Fundo de Apoio Social Papa Francisco para a integração de alunos em situação de fragilidade e, assim, contribuir para «uma sociedade solidamente formada, mais respeitadora das diferenças e laborando, através da educação, para o reconhecimento do direito a uma formação integral e integradora dos saberes».
Nas palavras dirigidas pelo Santo Padre à comunidade da UCP, o sentido da ciência e o propósito do saber foram enquadrados na busca da verdade, com uma mensagem peremptória que não deve demitir-se de tutelar a vida académica: «a verdade significa mais do que saber: o conhecimento da verdade tem como finalidade o conhecimento do bem». O Papa Francisco recorda: «Não basta realizar análises, descrições da realidade; é necessário gerar espaços de verdadeira pesquisa, debates que gerem alternativas para os problemas de hoje». Voltamos, e sou mais convicta ainda disso com as palavras do Santo Padre, aos valores de que falámos atrás. E o Papa Francisco descreve: «uma instituição académica católica distingue-se pela inspiração cristã dos indivíduos e das próprias comunidades, consentindo-lhes incluir a dimensão moral, espiritual e religiosa na sua investigação e avaliar as conquistas da ciência e da técnica na perspetiva da totalidade da pessoa humana». A humanidade inteira, crente ou não, ganha com esta visão agregadora e humanista.
Fazer um curso não deverá, pois, poder ser menos do que um contributo sólido e firme para o saber pensar. Deve fornecer as ferramentas para uma aprendizagem do pensamento crítico. Uma preparação substancial para o saber perguntar, auscultar, escutar, ver para além do visível. Diz-nos o Padre José Tolentino Mendonça, Vice-Reitor da UCP, no seu mais recente livro O Pequeno Caminho das Grandes Perguntas: «Há um momento em que percebemos que as perguntas nos deixam mais perto do sentido, da abertura do sentido, do que as respostas.»
Mesmo que este sentido não nos surja logo enquanto estudantes, é esta a inquietação ontológica que está na base da experiência universitária que a UCP preconiza e cumpre e que, estando inserida numa visão cultural transversal (a cultura no seu sentido mais lato, de Alain Touraine), tem não só repercussões no estudante enquanto aluno, mas sobretudo – e isso é o fundamental – enquanto pessoa. Parabéns UCP!
NOTA: a imagem em destaque, com Isabel Capeloa Gil, Reitora da UCP, e o Papa Francisco, foi retirada do site da UCP.
.