A sociedade globalizada em que hoje vivemos deixa de sobra muito pouco tempo para refletir sobre uma coisa (afinal, fundamental): os valores. Por vezes, são precisamente os casos mais rocambolescos e enredados que se afirmam como excelentes oportunidades para pensar e colocar em perspetiva os valores. E, claro, aquilo que cada pessoa faz com e dos valores. É com estas dicas que saem do Teatro Aberto os espectadores que por lá passam para ver As Raposas, peça com dramaturgia de Lillian Hellman (1905-1984), encenação de João Lourenço e um elenco de luxo, com João Perry, Virgílio Castelo, Marco Delgado e Luísa Cruz incluídos.
Em palco, pavoneiam-se os membros de uma família de grandes proprietários com a ambição de expandir negócios e aumentar capital. No seio dessa família surgem conflitos e desavenças pelo meio do caminho trilhado para alcançar sempre mais poder e mais dinheiro. Uns menosprezam declaradamente os meios para alcançar os fins, outros fazem-no com mais cautela, de um lado prevalece a frieza da razão, do outro vence a força do coração, ficando no ar o alerta de que não é opção ficar a ver comboios passar…
O nome de Lillian Hellman começou por notabilizar-se na crítica literária publicada pelo New York Herald Tribune, ganhou expansão no cinema de Hollywood pela leitura de guiões, apreciada por uma elite literária formada por personalidades sonantes, como Ernest Hemingway e William Faulkner. Em 1934, Lillian Hellman estreou-se como autora no teatro, tendo em 1939 lançado The Little Foxes, adaptada ao cinema em 1941 e à ópera em 1947. Na década de 1960, afastou-se do teatro e passou a dedicar-se em exclusivo ao ensino e à escrita. Lillian Hellman é hoje lembrada por ter defendido causas políticas dentro e fora do seu país e por ter assumido convicções ideológicas muito fortes, nomeadamente contra o nazismo.
As Raposas estrearam-se em Portugal, em 1966, com o nome original, As pequenas raposas, no Teatro Villaret e já aí com participação de João Perry. O ator subiu de novo ao palco este ano, num outro tetro, o Teatro Aberto, mas para o mesmo argumento e a mostrar que, 49 anos volvidos, a mesma reflexão dos valores não só mantém a atualidade, como se tornou ainda mais urgente e necessária.
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